Três acontecimentos exemplares

Albano Nunes

Custa contrariar o «pensamento único» e lutar pela verdade

Vivemos uma situação internacional em que os acontecimentos se sucedem a um ritmo vertiginoso, nada fácil de seguir e muito menos de avaliar, e tanto mais quanto a torrencial massa de informação é servida, seleccionada, tratada e comentada em termos de desorientar e impor às massas o pensamento dominante. Entretanto, é cada vez mais claro (confirmando, aliás, as análises do PCP) que tão complexa e turbulenta situação tem como pano de fundo o aprofundamento da crise estrutural do capitalismo, um processo de arrumação de forças no plano mundial desfavorável à hegemonia do imperialismo, e o prosseguimento da luta dos trabalhadores e dos povos. E que, num quadro de agudização da luta de classes, os sectores mais reaccionários e agressivos da classe dominante jogam cada vez mais no fascismo e na guerra para tentar contrariar o seu inexorável declínio.

Três acontecimentos recentes são bem ilustrativos dos perigos que o capitalismo faz pesar sobre a humanidade. O primeiro, a anunciada venda pelos EUA a Israel de armamento no valor de vinte mil milhões de dólares. Não sendo novidade o seu significado político é evidente. No momento em que os EUA manobram para tentar fazer passar uma imagem de apaziguadores da explosiva situação no Médio Oriente, constitui uma insolente afirmação de férreo apoio ao governo sionista de Israel e ao genocídio que está a praticar contra o povo palestiniano. Além disso põe em evidência um tenebroso traço inerente ao capitalismo monopolista, um sistema em decadência que exige a militarização da economia para o seu próprio funcionamento. É isso, e não um qualquer «eixo do mal», que está na raiz da estratégia de confrontação conduzida pelo imperialismo norte-americano, pela NATO e pela União Europeia, a qual assume abertamente a construção de uma «economia de guerra» como factor dinamizador da sua economia.

O segundo, sobre o Japão onde a propósito da anunciada demissão do primeiro-ministro Fumio Kishida o Público de 15.08.24 escreve: «Kishida anunciou a maior expansão da força militar do Japão desde a Segunda Guerra Mundial, com o compromisso de duplicar a despesa com a defesa para impedir a China de prosseguir as suas ambições territoriais na Ásia Oriental.» Para um país que invadiu a China e aí (como na Coreia e noutros países asiáticos) cometeu crimes monstruosos cujos autores o poder continua a homenagear no «santuário» de Yasukuni, é difícil imaginar maior desfaçatez.

Por último, as notícias sobre o X (ex-Twitter) actuando não só como um poderoso instrumento de difusão da ideologia dominante mas como uma plataforma de apoio ao racismo e à extrema-direita. O que está a vir ao de cima sobre o activismo político de Elon Musk - seja no apoio militante a Donald Trump e à extrema-direita norte-americana ou ao fascista Milei, seja em relação à ofensiva golpista na Venezuela ou à onda racista que tem varrido a Grã-Bretanha – é a ponta de um iceberg ameaçador quanto ao poder das grandes tecnológicas.

Estas são três de entre as inúmeras manifestações da natureza exploradora e agressiva do imperialismo a exigir denúncia e firme combate. O PCP sabe bem o que custa contrariar o «pensamento único» e lutar intransigentemente pela verdade, mas não faltará à chamada.

 



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