De novo, a «rentrée»
Para honrar as velhas tradições do PSD, o primeiro-ministro de um Governo PSD ou PSD/CDS vai à «rentrée» do Pontal. Assim aconteceu, na semana passada, com Luís Montenegro. Sob uma onda gigante de propaganda, planeou divulgar três medidas «bombásticas» que deixariam os portugueses eternamente agradecidos.
Puxando da cartola um discurso, numa «raríssima» manobra de diversão, Luís Montenegro anunciou três medidas que, independentemente dos seus limitados benefícios, não vêm resolver nada de substantivo na vida dos trabalhadores e do povo: um passe mensal pelo valor de 20 euros para uso numa CP que tem falta de comboios e de trabalhadores, obras na ferrovia que se arrastam sem fim à vista (como é o caso da Linha da Beira Alta) e horários desfasados das necessidades de muitos utentes.
Anunciou também um suplemento para os reformados das pensões mais baixas aplicável só no mês de Outubro, quando se sabe que o problema das baixas reformas e pensões não se resolve com suplementos ou complementos (seja o suplemento anunciado ou o Complemento Solidário para idosos), mas com o aumento extraordinário de todas as pensões em 7,5% (num mínimo de 70 euros), como propõe o PCP.
Anunciou ainda mais vagas nos cursos de medicina, que formarão médicos que, entre curso inicial e especialização, só daqui a vários anos estarão ao serviço.
Entretanto, não respondeu à questão central que é rever a remuneração base dos profissionais da saúde aumentar salários, valorizar carreiras e fixar ou atrair médicos ao SNS, problema que requer respostas concretas e imediatas e não daqui a 6 ou 8 anos. Medida absolutamente urgente e necessária para resolver, no imediato, os problemas que afectam o SNS e o põem em risco.
Ainda a poeira levantada pela histriónica intervenção do primeiro-ministro não tinha assentado e, logo no dia a seguir, o portal do SNS ma Internet informava: «sete serviços de urgência de Ginecologia e Obstetrícia e dois de Pediatria encontram-se hoje encerrados, segundo as Escalas de Urgência do Serviço Nacional de Saúde (SNS)».
Não há dúvidas, enquanto não mudarmos de política, para lá dos discursos e das rentrées, os problemas continuarão a agravar-se e bens preciosos como o SNS continuarão sob saque.
Mas, também alguém esperava que da cartola da política de direita saísse a resposta aos seus problemas?...