Continuidade – a garantia de que o capital precisa
Pedro Siza Vieira (PSV) sempre fez lembrar um daqueles ministros que tanto estaria bem num governo do PS como num do PSD. O seu percurso profissional está ligado à advocacia, ou melhor, à assessoria de grupos económicos em grandes negócios, de que os despojos do BANIF ou a privatização da TAP são exemplo. A sua passagem pelos governos PS de António Costa, como ministro da Economia, integram-se nessa visão, digamos assim, ampla da política e dos negócios que vimos nas últimas décadas.
Esta semana, PSV deu uma longa entrevista ao Jornal de Negócios onde é chamado a pronunciar-se sobre as opções do actual Governo PSD/CDS. Sejamos justos, PSV não concorda com tudo o que o actual Governo PSD/CDS está a fazer, mas quase. Há que manter as aparências. E é o próprio que não tem nenhum problema em afirmar que «este Governo tem uma grande continuidade do ponto de vista de política económica relativamente a opções que vinham de trás». E tem razão!
Descida dos impostos às grandes empresas em nome da competitividade, apoios públicos à concentração monopolista porque falta escala às empresas portuguesas, desvio dos fundos comunitários para os grupos económicos porque o dinheiro tem que chegar à economia, privatizações porque o Estado não tem vocação para gerir, alterações à legislação laboral porque as regras são rígidas, estes são alguns dos argumentos presentes na acção do anterior e do actual governo que confirma a «continuidade» de que PSV falou.
É o consenso neoliberal que temos denunciado e onde se revêem PSD, CDS, IL e Chega, mas também o PS. Um consenso que se constrói em torno dos interesses dos grupos económicos e das multinacionais, cabendo ao governo de turno a execução da respectiva política. Daí os apelos sucessivos a «pactos de regime», a entendimentos em nome da «estabilidade política», ou até à aprovação do próximo Orçamento do Estado, juntando PSD/CDS e PS.
Mas do que o País precisa é de acabar com este consenso. É interromper a política de baixos salários, de degradação dos serviços públicos, de desprezo pela produção nacional, de abdicação de soberania. O consenso e a convergência de que o País precisa não é para prolongar a política de direita e alimentar as forças reaccionárias. É para romper com ela e construir um outro rumo para o País. É aí que se constrói a alternativa.