Pró… qualquer coisa

Anabela Fino

O Eurobarómetro da Primavera, divulgado há cerca de um mês, deu azo a curiosos títulos nos media. O Público dourou a pílula e induziu os leitores em erro ao titular que «Para oito em cada dez europeus, o contexto internacional torna o voto nas europeias mais importante.» Mais comedido, o €co pôs em evidência a contradição intrínseca das respostas: «Portugueses são dos que mais confiam na UE mas não sabem data das eleições europeias.» Opção idêntica teve a CNN Portugal ao destacar que «Nove em cada 10 portugueses consideram ainda mais importante votar nas próximas europeias, mas só 57% dizem que é provável irem votar». O DN esforçou-se por mitigar o óbvio, enfatizando um interesse que os dados desmentem: «Interesse pelas europeias aumenta. Portugueses são muito pró-UE, mas só 14% sabem dia do voto.»

O assunto voltou à baila há dias, pela mão do JN, que num artigo online exclusivo para assinantes informou que os portugueses estão «preocupados com a defesa da Europa, mas não com a imigração». A fonte era o mesmo Eurobarómetro, desta vez enfatizando a alegada necessidade da UE de «reforçar a capacidade de produção de equipamento militar» e de «ter uma política comum de segurança e defesa».

Não consta que tenha havido – e peço desculpa se estou enganada –, nem sequer en passant, uma chamada de atenção para o facto de as respostas porem em evidência três realidades. Primeiro, que a importância e a desinformação andam de mãos dadas em matéria de UE. Segundo, que quanto maior é o desconhecimento, maior é aceitação. Terceiro, que as matérias destacadas coincidem, certamente não por acaso, com os temas matraqueados diariamente por Bruxelas.

A propósito, ocorreu-me o resultado de outra sondagem europeia, esta sobre as armas de destruição massiva no Iraque, já lá vai quase um quarto de século: mais de 90% dos inquiridos acreditavam na existência das ditas, o que se revelou ser falso. Centenas de milhares de mortos depois e de um país destruído, não houve desculpas nem reparações dos EUA ao Iraque, nem sondagens na UE. Mas somos Pró.

 



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