Catarina Eufémia está viva na nossa luta!

Ângelo Alves (Membro da Comissão Política)

Os comunistas estão na primeira linha da resistência ao fascismo

As ruas de Baleizão encheram-se para assinalar os 70 anos do assassinato da camponesa lutadora, mulher trabalhadora e revolucionária, que a História colocou na memória e no imaginário de todos os que lutam e sonham com a terra sem amos.

Foram muitas as centenas de homens, mulheres, jovens, comunistas e outros democratas, que se deslocaram a Baleizão no passado domingo para assinalar os 70 anos do assassinato de Catarina Eufémia pelas forças a mando dos agrários e do regime fascista. Foi bonita e intensa a homenagem à jovem operária agrícola, comunista, que assumiu a frente da luta para exigir salário, pão, justiça e dignidade, e que com um filho nos braços foi assassinada à queima-roupa pelo fascismo.

A história de Catarina é conhecida, foi amplamente divulgada pelo seu Partido, o PCP, ao longo das décadas que nos separam desses dias negros da longa noite fascista. Corria o ano de 1954. A fome, a pobreza, a exploração violenta dos operários agrícolas pelos latifundiários – um dos grandes poderes económicos em que assentava o regime fascista – eram a dura realidade de milhares e milhares de mulheres e homens alentejanos.

A revolta crescia no pensamento e acção desses que, de sol a sol, trabalhando até 14 horas por dia, asseguravam o trabalho agrícola nas searas e demais explorações agrícolas do Alentejo. Trabalhavam sazonalmente. O Inverno trazia ainda mais pobreza e fome, quando o trabalho à jorna escasseava. O trabalho era pago ao dia, como hoje voltamos a ver. Não existia salário mínimo, assistência médica, segurança social, reforma e muito menos subsídio de desemprego. Os dias eram passados a trabalhar, a caminhar muitas horas para ir e vir do trabalho, a dormir pouco, e sobretudo a tentar encontrar forma de a fome não entrar pela casa dentro.

É neste contexto que os comunistas, em unidade com muitos outros, utilizando a sua já forte e implantada organização clandestina no Alentejo e as suas também clandestinas publicações como O Camponês e o Avante! organizaram a luta do operariado agrícola que, mais tarde na década de 60, viria a envolver cerca de 200.000 operários agrícolas na heróica e vitoriosa jornada de luta pelas 8 horas de trabalho. Os anos 50 e 60 foram de facto anos de intensa luta em que a única força organizada da resistência no Alentejo – o PCP – foi determinante para o sucesso de algumas das mais icónicas e importantes jornadas de luta que contribuíram de forma decisiva para derrubar o regime fascista.

A memória e o presente da luta

Passaram 70 anos. E quis a História que esses 70 anos coincidissem com os 50 anos da Revolução de Abril. Assinalar, como se assinalou no passado domingo em Baleizão, estas duas datas, tem um imenso significado. Pela memória histórica que ali mais uma vez se reavivou, mas sobretudo porque ali esteve presente e futuro de luta. O que Catarina e a luta daquelas camponesas nos ensinou é que por mais violenta que seja a repressão, ela nunca conseguirá derrotar a luta pela terra sem amos que ali foi abraçada. Catarina morreu mas a sua luta continuou nos anos 60, com a luta das 8 horas, com a Revolução de Abril, com a Reforma Agrária e com as demais conquistas da revolução. Catarina vive em cada uma destas vitórias.

Mas há mais. Por mais que alguns tentem rever a história, branquear o fascismo e apagar da história o papel dos comunistas – incluindo quando tentam questionar a óbvia e documentada ligação de Catarina ao seu Partido ou a colocam no plano do «mito» – a verdade é que foram e são os comunistas, lado a lado com muitos outros democratas, que estão na primeira linha da resistência ao fascismo, tenha ele as caras que tiver. São os comunistas que na actualidade assumem com coragem a luta pelos salários, pelos direitos, pela justiça e a paz.

Ali, em Baleizão, terra de Catarina, não vive um mito, como alguns se atrevem a afirmar. Ali vive a memória e o presente da nossa luta em defesa de quem trabalha a terra, pela democratização do acesso à terra e dos recursos naturais e contra os novos latifundiários (muitos deles agora sem rosto), que vivem da violenta exploração dos trabalhadores agrícolas e da exaustão dos recursos naturais da região. Ali, em Baleizão vive esperança e luta. Pelo desenvolvimento do Alentejo, do nosso País e por uma terra sem amos.

 



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