Tantas histórias, quantas perguntas
Em declarações recentes à agência Lusa, a ministra Helena Carreiras detalhou a decisão tomada pelo Conselho de Ministros de apoiar a Ucrânia com 100 milhões de euros para munições de artilharia de grande calibre, um programa de aquisição conjunta liderado pela República Checa e ao qual se associam vários países membros da NATO.
Ora, sendo certo que esta verba vai sair do Orçamento do Estado, e apesar do governo estar de saída, pergunta-se: de que rubrica vão ser retirados estes 100 milhões? Em vez da guerra, não poderiam e deveriam estas verbas ser destinadas ao SNS, à Escola Pública, ao investimento na Habitação, à resolução dos múltiplos e graves problemas com que o povo português se vê confrontado?
E, já agora, porque optou o Governo por utilizar dinheiro para satisfazer a gula da indústria armamentista e promover o prolongamento da guerra, com o seu rol de morte, sofrimento e destruição, e não para defender e contribuir para a abertura de vias de negociação que levem à paz?
Conviria ainda que o Governo explicasse porque assumiu o alinhamento total com o Conselho Europeu que, na sua reunião de 21 e 22 de Março, reforçou o caminho que leva à guerra, ao decidir aprofundar a discussão sobre uma Estratégia Industrial de Defesa Europeia, mudando o paradigma económico e passando para um «modo de economia de guerra»?
Seria pertinente que o Governo tornasse ainda claro: como é que num contexto de guerra, que está sempre a invocar como a causa dos problemas nacionais, as fortunas dos grupos económicos tenham crescido vertiginosamente enquanto a imensa maioria dos portugueses enfrenta o elevado custo de vida, risco da pobreza e exclusão social?
É urgente que se ponha fim aos conflitos militares – na Ucrânia como também na Palestina ocupada ou em outras partes do mundo – e, para isso, é decisiva a luta dos povos, mas é também relevante a pressão dos governos. Que pretende, afinal, o Governo português, na sua cega submissão aos EUA, à NATO e à União Europeia, ao juntar-se aos instigadores da guerra, em vez de se ligar ao campo da paz, cumprindo, assim, o que determina a Constituição da República Portuguesa?
Citando um conhecido poema de Brecht, «tantas histórias / quantas perguntas».