Sim, rejeitamos

João Frazão

A voz do dono, instalada nas cadeiras do comentário político, já decretou. O PCP decidiu avançar com uma Moção de Rejeição ao Programa do Governo, apenas para fazer prova de vida! Clama «a voz» contra a insensatez de o fazer antes de se conhecer o dito Programa. Grita «a voz» contra o dislate de o fazer antes de se conhecer ao menos a composição do Governo.

À boleia desta «voz» (apesar de ter muitos rostos, é mesmo só uma), outras, mesmo nos partidos da oposição, mesmo nos que se reclamam das convergências, vêm dizer que precisam de esperar para ver.

Uns e outros, pelos vistos, querem pôr-nos à espera.

À espera de possíveis entendimentos para o governo, como se um apenas do PSD e do CDS não fosse, por si, razão bastante para ser rejeitado, independentemente do que negociará com este ou aquele, até porque a eleição da mesa da Assembleia da República diz bem do que aí vem.

À espera do governo e dos figurões que o compõem, como se centenas de membros de 23 governos não mostrassem à evidência que essa diversidade nominal conta pouco para a vida real do povo português.

À espera do Programa do governo, como se acreditassem que ele pudesse contrariar agora o que o PSD e o CDS escreveram no seu Programa Eleitoral, ou seja como se fantasiassem que estes partidos andaram a mentir ao eleitores na campanha com uma proposta muito negativa para agora lhes apresentarem um projecto progressista.

À espera dos primeiros 50 ou 100 dias de governo e das suas medidas concretas, como se esta ou aquela iniciativa para menorizar injustiças gritantes, de que também o PSD e o CDS são responsáveis, pudesse apagar os seus objectivos de fundo.

Não ficaremos à espera. O governo que entrar em funções por estes dias não nos desiludirá, porque não alimentamos qualquer tipo de ilusão.

Rejeitamos o ataque aos serviços públicos e às funções sociais do Estado e o objectivo da sua entrega ao negócio, em nome de uma resposta aos utentes que o lucro só poderá piorar. Rejeitamos as borlas fiscais ao capital em nome de um crescimento que amanhã reverteria em melhores salários que apenas desequilibrará ainda mais a relação entre os salários e os rendimentos do capital, a favor destes. Rejeitamos a entrega ao capital do que resta do sector empresarial do Estado, a começar pela TAP, em nome de uma eficiência que a vida provou há muito não existir.




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