Bravura dos instalados

Jorge Cordeiro

Sónia Sapage não aguenta de dorida que está com a falta de «heroísmo» dos europeus. Nada há que a conforte por a maioria dos inquiridos em recente estudo de opinião desejar que o conflito na Ucrânia acabe com um acordo de paz. Imagine-se, paz!, um escândalo, um verdadeiro sacrilégio, uma confessada expressão «pessimista» e «derrotista», nas palavras da jornalista, capaz de tirar qualquer um do sério.

Sónia Sapage faz parte daquele clube de «heroicos» incentivadores do conflito – os Borrell, Von der Leyen ou Metsola –, que, por procuração de Biden, tendo como garantido que a sua bravura se resume a deixar morrer ucranianos e russos, a partir do conforto das instituições ou de uma qualquer redacção, quanto mais guerra e mortes melhor. Batesse-lhes à porta guia de marcha para ir defender no terreno os valores «ocidentais» e a «coragem belicista» que transpiram depressa se evaporava.

Percebe-se que a guerra seja para quem a sustenta, patrocina e incentiva uma garantia política e económica. Em nome dela agita-se o medo que mesmo irracional soma sempre para quem faz da mentira bússola política, justificam-se opções e políticas que desprezam os reais problemas dos povos e agravam desigualdades, garante-se a prosperidade e os lucros colossais da indústria de armamento, anima-se a narrativa do perigo externo (russo ou outro) tão necessária para limitar direitos e garantias, inventar inimigos internos, garantir o poder de dominação de quem domina.

Não seria pior que a jornalista revisitasse aquela película dos anos 60, Vêm aí os russos, que em género de comédia explorava a fobia anti-soviética que nos Estados Unidos da América, no rescaldo do macarthismo, se animava com os fins e consequências que se conhecem. Sugestão não isenta dos seus riscos, porque entre infantis credulidades ou mórbidas fobias ainda por aí se vai ver escrito que já foram avistados russos, não na costa oeste norte americana como nesse filme, mas nas Portas de Ródão.

 



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