Evacuação de Rafah será nova tentativa de ocupação
No meio dos rumores de que possa estar a a ser negociada uma trégua para breve, o massacre prossegue na Faixa de Gaza, onde os ataques israelitas já provocaram quase 30 mil mortos e mais de 70 mil feridos em menos de cinco meses.
Israel ameaça atacar Rafah, onde se concentram mais de um milhão de deslocados palestinianos
Lusa
Os bombardeamentos israelitas centram-se agora nas cidades de Gaza, Rafah e Khan Yunis, provocando mais vítimas. A crise humanitária agrava-se, com o cerco do território a impedir a entrada de água, alimentos, medicamentos e combustíveis. Numerosos palestinianos foram mortos na terça-feira, 27, devido aos ataques israelitas a diversas zonas da Faixa de Gaza, havendo crescentes temores de que as tropas ocupantes possam estender as suas operações terrestres ao sobrepovoado sul do território.
As tropas israelitas ameaçam com uma mais grave ofensiva militar em Rafah, no sul da faixa. Várias agências da ONU alertaram para as gravíssimas consequências dessa agressão face à impossibilidade de retirar a população palestiniana que ali se refugiou, já que não há sítio para onde as pessoas se possam transferir.
Segundo dados oficiais, desde o início da mais recente agressão israelita, mais de 29.800 palestinianos foram mortos e mais de 70.200 ficaram feridos. O porta-voz da presidência palestiniana, Nabil Abu Rudeina, denunciou um plano israelita para evacuar mais de um milhão de pessoas da cidade de Rafah e considerou-o uma nova tentativa de ocupação.
A intenção do exército ocupante, anunciada pelo gabinete do primeiro-ministro israelita, é rejeitada e condenada pelas autoridades palestinianas, porque tem por objectivo voltar a ocupar o enclave e deslocar à força a sua população. A ideia demonstra ao mundo a contínua agressão contra Gaza e a decisão prévia de assaltar Rafah apesar dos pedidos internacionais para deter a guerra, destacou.
Rudeina denunciou «o genocídio e a agressão bárbara contra o nosso povo e os nossos lugares sagrados». Advertiu que essas acções, juntamente com a deslocação forçada dos palestinianos e a falta de um diálogo baseado no direito internacional, destruirão o Médio Oriente.
Perante essa situação, sublinhou, os EUA devem actuar de maneira diferente, «travar a loucura israelita» e assumir a sua responsabilidade, obrigando o Estado ocupante a parar a agressão. «O contínuo apoio norte-americano é o que alenta as autoridades de ocupação a intensificar a sua agressão e os seus crimes contra o nosso povo», considerou.
Presos na Cisjordânia
A par dos ataques de Israel na Faixa de Gaza e nos países vizinhos (Líbano, Iraque, Síria), intensifica-se a repressão israelita em toda a Palestina ocupada.
As forças israelitas prenderam 7.225 palestinianos na Cisjordânia desde 7 de Outubro, indicou uma organização palestiniana de prisioneiros e ex-prisioneiros em Israel. A instituição denunciou em Ramala que essa campanha de detenções não tem precedentes e que, a par do genocídio na Faixa de Gaza, faz parte da estratégia de agressão contra o povo palestiniano.
A referida organização tinha já denunciado o aumento dos crimes da polícia e do exército israelitas contra os detidos palestinianos. Destacou que, nos últimos cinco meses, os militares emitiram mais de 2.850 ordens de detenção administrativa, procedimento utilizado para prender palestinianos por períodos renováveis, de três a seis meses, com base em motivos não divulgados, a que os próprios advogados dos presos não têm acesso.
No final de 2023, cerca de 8.800 palestinianos, incluindo 80 mulheres, estavam presos nas masmorras israelitas.
Governo palestiniano
apresentou demissão
O primeiro-ministro palestiniano, Muhammad Shtayyeh, apresentou a demissão do seu governo, face às fortes pressões de Israel e de outras potências, que exigem reformas ao presidente Mahmoud Abbas.
«Esta decisão ocorre à luz dos acontecimentos políticos, de segurança e económicos relacionados com a agressão contra o nosso povo na Faixa de Gaza e a escalada de violência sem precedentes na Cisjordânia», justificou Shtayyeh, citado pela agência noticiosa Wafa.
O dirigente palestiniano, no pedido de renúncia, denunciou uma vez mais «o genocídio, as tentativas de deslocação forçada da população e a fome na Faixa de Gaza», bem como «a intensificação da política expansionista na Cisjordânia e o terrorismo praticado pelos colonos israelitas». E criticou as tentativas de Israel de liquidar a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA) e de converter a Autoridade Nacional Palestiniana (ANP) numa instituição administrativa de segurança, sem conteúdo político.
Deputados no Parlamento Europeu
instam ao apoio adequado à UNRWA
Os deputados do PCP no Parlamento Europeu promoveram um abaixo-assinado que insta à garantia do apoio à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) com o financiamento adequado para prosseguir e intensificar o seu trabalho humanitário.
Este abaixo-assinado contou com a subscrição de 108 deputados do Parlamento Europeu de diversos grupos políticos.
A UNRWA «desempenha um papel insubstituível no fornecimento diário de ajuda crítica a 2,2 milhões de civis em Gaza, que enfrentam uma ameaça indescritível contra as suas vidas e os seus direitos mais básicos, contando-se já mais de 100 mil mortos, feridos e desaparecidos, sendo a maioria deles crianças e mulheres», refere o texto.
Na sequência da decisão de alguns países contribuidores de suspenderem o seu financiamento à UNRWA, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sublinhou, a 31 de Janeiro passado, «a importância de manter o trabalho vital da UNRWA para responder às necessidades urgentes dos civis em Gaza» e apelou «a todos os Estados membros para que garantam a continuidade do trabalho de salvamento da UNRWA».
Os deputados do Parlamento Europeu que subscreveram a carta instam a presidência espanhola do Conselho da União Europeia, o presidente do Conselho Europeu, a presidente da Comissão Europeia, a presidente do Parlamento Europeu e o secretário-geral das Nações Unidas a «empenhar-se neste esforço e compromisso com as resoluções e convenções das Nações Unidas relativas aos Direitos Humanos e aos direitos do povo palestiniano, garantindo apoio à UNRWA com o financiamento adequado para prosseguir e intensificar o seu trabalho humanitário de salvamento de vidas».