Apólice eleitoral
Há quem, à força toda, queira fazer do partido de Ventura a apólice eleitoral de PS e PSD. Aí está, pois, esse exercício para prevenir estragos eleitorais a estes, em nome de antecipada visão catastrofista que o primeiro representaria.
Desde já uma prevenção. Se há ramo que suscita desconfiança, o dos seguros é um deles. Para lá do que à primeira vista a sua publicitação deixa antever o que verdadeiramente conta é o que sob ela se esconde nos extensos anexos em letra bem miudinha, cuja leitura só está ao alcance do estoicismo de alguns. No domínio comercial do termo, não raras vezes quando se acciona uma apólice lá vem a surpresa de ver o que se tomava por certo o não ser, tipo «tem seguro mas essa doença é dispendiosa, logo não está coberta, vá bater à porta do SNS». No domínio da política, com as especificidades que a alegoria comparativa exige, a coisa não é menos enganosa.
É assim perceptível a motivação para o agigantamento do Chega, e a quem serve, numa dinâmica em que este parasita descontentamentos e outros procuram instrumentalizar essa acção em benefício eleitoral. Longe, pois, de ser obra do acaso o orquestrado exercício que a partir de comentadores e de editorias, sob uma aparente crítica, esconde uma estratégia para garantir na prática a projecção e espaço que a rasteira demagogia daquela força não autorizaria, dando centralidade e promoção a concepções retrógradas que dizem combater.
Um exercício da turba mediática, alinhado com os interesses de PS e PSD, potenciando o que o Chega propicia de argumentação para dar continuidade à política de direita por via da mais segura garantia que os interesses dos grupos económicos ambicionam: com uma maioria absoluta, seja de PS ou PSD, alimentada na dramatização de um risco ou com eventual recurso a um novo bloco central agora em nome de um suposto interesse nacional para evitar esse risco maior que se cultivou. Em matéria de riscos e da sua prevenção nada melhor do que não hesitar em quem dá de facto sólida garantia, a CDU.