Mistificação, vezes sem conta

Carlos Gonçalves

Manuel Carvalho (MC), ex-director e redactor do Público, escreveu e fez publicar há uma semana O partido duas vezes fora do tempo que, com objectividade, aqui se procura comentar.

Marx e Engels, em 1848, no Manifesto, fixaram que «a história de toda a sociedade é a história da luta de classes». Citações mais enfáticas seriam aplicáveis a este caso, mas esta «responde» às mistificações do texto e ao desnorte, efectivo ou instrumental, de sectores sociais intermédios nesta etapa histórica.

Nos preconceitos, desvarios e mentiras anticomunistas do texto alinha-se o cardápio da moda: um PCP de «sondagens madrastas», em «agonia», no «caminho para a provável irrelevância», apegado a «um tempo e um mundo (de luta de classes) que já não existem», cujos «dogmas e ódio à iniciativa privada, ao liberalismo e a um mundo global (de domínio imperialista) são razões de obsolescência», «perturbado com a reacção à invasão da Ucrânia», com uma «imagem de ortodoxia de fragrância estalinista», como se «a era digital não existisse» e a «mitologia da classe operária fizesse sentido», com «mensagens» «do passado» e «dificuldade em fazer-se ouvir», «fantasias do fim do comunismo», etc..

Não há espaço para rebater tretas sem conta: campanhas do «fim do comunismo» que fracassam há cento e setenta anos; mentiras e meias verdades de contrabando repetidas há oitenta; bandos de avestruzes que escondem a cabeça para não ver a luta de classes; farsantes dos grandes média de «sondagens» manipuladas e mensagens do PCP ocultadas e falsificadas; e sujeição total aos USA e às suas guerras.

O texto de MC contém também umas poucas verdades: o PCP é a «excepção» ao «alarido populista», na «urgência na defesa dos salários, do SNS, no ataque aos lucros da banca», em «tempos de perigosa tentação pelo abismo, no PCP há reflexão serena e conservadorismo revolucionário» – como no poema de Aleixo, «para a mentira ser segura e atingir profundidade, tem de trazer à mistura alguma coisa de verdade»!

MC dá nota das suas inquietudes, sabe das razões, do projecto e futuro do PCP, mas junta-se à mistificação, para – em vão – suscitar a dúvida e a desistência dos democratas e apoiar o capital financeiro-mediático.

Este texto de MC é uma crónica da sua próxima frustração.




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