Quadros na parede

Margarida Botelho

Discursando num almoço em Viana do Castelo no passado sábado, Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda, referiu-se ao Chega e a André Ventura em termos que no essencial podemos acompanhar.

A determinada altura, criticando também a «corrida de gente da IL, do CDS e do PSD para conseguirem à última da hora assegurar o seu lugar nas listas eleitorais» do Chega, dizia: «entusiasmados e convertidos, dispostos a enfiar a Constituição no balde do lixo, a exclamar que “antigamente é que era”, e a colocarem a fotografia do Dr. Ventura na parede do seu gabinete, qual Estaline, como já acontece em todos as salas do Chega no Parlamento. E que bom Estaline dá o Dr. Ventura.»

E é aqui que se instala uma certa perplexidade. Se Mortágua se estava a referir a gente da IL, do CDS e do PSD a mudar-se para o Chega, porque haveriam de levar consigo uma fotografia de Estaline? Se fosse de Passos Coelho, cujo governo muitos apoiaram e de quem – é público – o próprio André Ventura tem uma fotografia no gabinete na Assembleia da República, percebia-se a referência. Também se perceberia, porque falava de gente com saudades do «antigamente», se se referisse a um quadro de António Salazar. Ou, vá lá, até de Hitler, que se admite que possa inspirar alguns daqueles a quem Mortágua se referia.

Mas a referência a Estaline não encaixa ali bem. Indo buscar Estaline, o Bloco de Esquerda remete para aquela inaceitável equivalência entre comunismo e fascismo, extremismos que se tocam e dislates antidemocráticos do género dos que a União Europeia e a direita em geral têm promovido. Custa a crer que uma força de esquerda, com quem se converge tantas vezes e em tantas lutas, recorra a tal metáfora, tão anticomunista. Na discussão democrática e na disputa de votos não pode valer tudo.




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