Está na hora de aumentar os salários!

Ricardo Costa (Membro da Comissão Política)

Em Junho de 2023 o poder de compra dos salários era inferior ao de Janeiro de 2021

Há muito que o PCP coloca a ideia do aumento dos salários como uma emergência nacional. Aliás, se ao longo dos últimos meses se falou de salários, foi precisamente porque temos vindo a dar centralidade a esta questão como elemento fundamental.

Por isso temos afirmado: é justa, necessária e possível a proposta de um aumento de 15% nos salários, com um valor nunca inferior a 150 euros, à qual urge responder positivamente.

Muitos perguntam como é possível esse aumento. Ora, se tivermos em conta uma inflação acumulada, entre 2022 e 2024, que rondará os 15%, e a evolução dos salários nos últimos anos, logo percebemos que só um aumento desta ordem de grandeza poderá de alguma forma contribuir para a redução dos impactos do aumento do custo de vida.

Ouvimos também teorias sobre a impossibilidade das empresas suportarem estes aumentos – que os custos vão subir muito e as empresas não aguentam! Na verdade, este é mais um elemento da propaganda que o capital, o Governo e os «comentadeiros» procuram impor, tentando instalar a ideia da impossibilidade ou mesmo da catástrofe. Mas o que sabemos, e os dados nos indicam, é que o peso dos gastos com pessoal nos gastos totais das empresas é, em média, de 14%, e nas grandes empresas de 10,9%.

Podemos e devemos, quando em contacto com os trabalhadores, dizer-lhes que um aumento nesta ordem de grandeza significa um aumento médio desses custos de apenas 2,1%. Devemos também relembrar que o rendimento médio líquido dos assalariados no nosso país indica uma perda de 5,1% de poder de compra em 2022, a que se junta 5,9% no primeiro semestre de 2023. Ou seja, em Junho de 2023 o poder de compra dos salários era inferior ao de Janeiro de 2021, isto depois de uma subida da riqueza criada de 12%.

Ao mesmo tempo que se gera mais riqueza, a exploração sobre quem trabalha também se acentua. A prova está nos milhões e milhões de lucros dos principais grupos económicos (milhões de lucro que crescem a cada mês que passa), 25 milhões por dia, enquanto ao povo e aos trabalhadores são colocados cada vez mais sacrifícios. Basta de injustiças!

Quando afirmamos que é preciso romper com a política de baixos salários, fazemo-lo porque sabemos que, em Portugal, dois em cada três trabalhadores tem uma remuneração bruta base inferior a 1000 euros por mês. Este valor, depois dos descontos, dá pouco mais que o Salário Mínimo Nacional (SMN).

Se somarmos o brutal impacto do aumento do custo da habitação (que não está refletido na inflacção) e a subida generalizada dos preços dos alimentos, da luz, do gás, percebemos que quem vive do seu trabalho passa por muitas dificuldades todos os meses. Sabemos também que esta situação só é possível ser alterada com uma profunda mudança nas opções e na política nacional.

Para isso, é preciso aumentar de forma significativa os salários, com o SMN a atingir os 1000 euros em 2024. Já há por aí outras forças políticas a avançar propostas que não respondem às necessidades de quem trabalha ou a adiar a resposta que é preciso dar, projectando-a para 2028. As necessidades dos trabalhadores colocam-se agora e esse aumento tem que se concretizar!

É por isso que é hora de mudar de política! E dar mais força ao PCP e à CDU.




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