Um biombo chamado «os políticos»
São incontáveis as vezes que a comunicação social, e não só, utilizam a expressão «os políticos» para tentar esconder a realidade de estarem a falar de alguns políticos, normalmente dos políticos que apoiam, e por isso não os quererem destacar negativamente.
Recentemente, sobre a apresentação de um meritório estudo sobre fiscalidade de Luís Mergulhão, o autor, questionado, respondeu que o argumento utilizado por «vários partidos» de que os impostos em Portugal são os mais altos na Europa é uma «ideia aliciante, mas falsa». O título da notícia onde esta citação se encontra afirma «Estudo contraria políticos. Carga fiscal em Portugal é inferior à média da UE». É importante que os portugueses, haja excepções, sejam informados com verdade, e é verdade que a carga fiscal média na União Europeia é maior que em Portugal. Mas também é verdade que não são «os políticos», nem sequer o mais higiénico «vários partidos», que mentem ao povo português. São, nesta questão concreta, o PSD, o CH, a IL.
Num outro registo, mas de similar contorno, outro órgão de comunicação social, sobre o mesmo estudo, destaca que «o presidente da direcção da Causa Pública [Paulo Pedroso, ex-ministro do PS], se reveja na análise e acredite que a “visão gradualista” preconizada por Mergulhão tem condições para «ser partilhada de um modo o mais amplo possível» pelas esquerdas em Portugal, por ser uma «causa comum progressista».
Com este «as esquerdas» a ser um biombo similar. Se não restam dúvidas de que uma visão de esquerda sobre as questões fiscais tem que assentar na sua progressividade, aliás prevista na Constituição, não é menos verdade que medidas preconizadas pelo referido estudo, nomeadamente o «englobamento obrigatório» de todos os rendimentos em sede de IRS, foram sempre propostas pelo PCP nos últimos anos, até numa versão matizada, aplicada apenas ao último escalão do IRS, e foram sempre chumbadas pelo voto de PS, PSD, IL e CH. Com o PS a fazer causa comum com as direitas.