Quanto melhor, pior

Anabela Fino

«Juntos temos conseguido mais e melhor emprego; diminuímos a pobreza e reduzimos as desigualdades; recuperámos a tranquilidade no dia-a-dia das famílias; (...) juntos ultrapassámos dificuldades e juntos construímos um país melhor», palavras de António Costa na mensagem de Natal, que desta vez foi também a de despedida.

Entretanto, em entrevista à Renascença e à Agência Ecclesia, o presidente da Comunidade Vida e Paz, Horácio Félix, dizia no dia 24 que a instituição se encontra à «beira do abismo», com dificuldade de atender os pedidos de ajuda, que aumentaram cerca de 25% relativamente a 2022. «Já estamos a ultrapassar as 500 pessoas dia em relação às que estão em situação de sem-abrigo», informou, lembrando que há 42% de pessoas em situação de pobreza ou em risco de pobreza, se retirarmos os apoios sociais.

As duas versões sobre o estado do País remetem-nos para um discurso recorrente na vida política nacional: Portugal está melhor, mas os portugueses estão pior.

Desde Bagão Félix (ministro da Segurança Social e do Trabalho de Durão Barroso e ministro das Finanças de Santana Lopes), que em 2012 dizia que o país estava melhor, mas a vida dos portugueses, sujeita às políticas da troika, estava pior, passando pelas «contas certas» inventadas por Passos Coelho em 2014, ao contrário do que agora quer fazer crer Cavaco Silva ao atribuir a paternidade ao PS, sem esquecer Luís Montenegro, que nesse mesmo ano garantia que a «vida das pessoas não está melhor, mas a do País está muito melhor», até ao idílico cenário actual de António Costa, que a alternância nos condena ao quanto melhor, pior.

Com eleições à porta e novo agravamento do custo de vida à vista, é hora de mudar as «contas certas» pelo «acerto de contas», a alternância pela alternativa. À esquerda.

 

 



Mais artigos de: Opinião

Boas entradas

Há um ano, nestas mesmas páginas partilhámos os cansaços desta altura do ano, e os cansaços das injustiças que vemos e vivemos. Falámos da coragem para lutar pela vida a que temos direito, do desafio de fazermos dos nossos sonhos força para agir. Passado um ano, somámos forças e cansaços,...

Cabotagem

No actual mar revolto e de águas turvas poucos arriscam grandes prognósticos e a navegação em águas profundas. Não o fazem, em especial, os que se continuam a ver como donos do mundo e veladores da ordem internacional, mesmo sabendo que a quebra da hegemonia é um processo irreversível. O preceito aplica-se, antes de...

O truque, o jantar e os votos

Parece que voltámos a 2022. À excepção do Secretário-Geral – antes António Costa, agora Pedro Nuno Santos –, parece que para o PS nada mudou. Pelo menos ao nível da argumentação, que continua a mesma que na altura tanto contribuiu para que lograsse atingir a desejada maioria absoluta: assegura que é a única garantia de...

Há um voto que faz a diferença

Indiferente à escalada nos preços da habitação, o Governo PS deu o seu aval ao maior aumento das rendas dos últimos 30 anos. No arranque de 2024, os preços subirão 7%, numa decisão que foi, como várias vezes fomos denunciando, acompanhada por PSD, Chega e IL, que votaram contra a proposta do PCP que limitava esses...

Um biombo chamado «os políticos»

São incontáveis as vezes que a comunicação social, e não só, utilizam a expressão «os políticos» para tentar esconder a realidade de estarem a falar de alguns políticos, normalmente dos políticos que apoiam, e por isso não os quererem destacar negativamente. Recentemente, sobre a apresentação de um meritório estudo...