PCP alerta para desmantelamento do SNS e favorecimento dos grupos privados
Segunda-feira, numa acção de contacto com os utentes do Centro de Saúde da Quinta da Lomba, Barreiro, o Secretário-Geral do PCP acusou o Governo de seguir um caminho de desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
«Esta é uma situação dramática e ridícula»
Lusa
A iniciativa decorreu no âmbito da campanha «Viver melhor na nossa terra», que se vai prolongar até ao final deste ano. Às 7h30, quando Paulo Raimundo chegou ao local, a fila de utentes ultrapassava, em muito, as 49 vagas para aquele dia. A primeira pessoa, de canadianas,montou «acampamento» às 00h30, uma vez que na sexta-feira anterior não conseguiu senha e está à espera de consulta há mais de dois meses. Este ex-combatente da guerra colonial nunca conseguiu ter médico de família e, recentemente, sofreu dois AVC (acidente vascular celebral).
Outra utente – que também chegou de madrugada – estava ali para renovar o documento de baixa médica. «Todos os meses venho aqui e é sempre assim. Quando não há vagas volto para trás e vou-me embora. Esta é uma situação dramática e ridícula», confessou, desesperada, ao Secretário-Geral do PCP, que lhe deixou uma mensagem de esperança: «Não podemos desistir», até porque os profissionais daquele centro de saúde – por conhecimento próprio – «são excelentes», mas «poucos», por opção de sucessivos governos.
Mais adiante encontrou a revolta e o desespero de uma senhora, com um problema numa perna, que já ali esteve quatro ou cinco vezes e não consegue uma consulta: «uma vergonha!». Falou por si, mas também pelos outros: «No outro dia estava aqui uma senhora deitada no chão, com uns cobertores. O primeiro-ministro devia pensar na saúde das pessoas, que estão a morrer nos postos médicos». A conclusão é óbvia: «O que eles querem [Governo] é que nós vamos ao privado pagar 100 euros por uma consulta», dinheiro que as pessoas infelizmente não têm, porque os salários, as reformas e as pensões são insuficientes, face ao continuado aumento do custo de vida.
Situação chocante
Também Paulo Raimundo considerou toda aquela situação «chocante», sublinhando que este «é o mundo real», bem diferente daquelas «conversas pomposas que assistimos nas entrevistas da televisão». «Não se consegue resolver tudo de um dia para o outro, mas pode-se abrir caminho para resolver este problema. Ora, o que está a ser feito é para desmantelar o SNS» e «permitir que estas pessoas cheguem aqui todos os dias de madrugada, à chuva e ao frio, sem médico de família», acusou, em declarações à comunicação social. Interrogado sobre se «o PS está a fazer o que é preciso para mudar esta situação», o dirigente comunista reforçou que o partido que está em maioria na Assembleia da República «está a fazer tudo o que é preciso para continuar e acentuar esta situação. Mais, as medidas que foram chamadas de pontuais, da rotatividade das urgências, por aí fora, tudo o que foi apresentado é para manter o padrão de funcionamento. Não se pode aceitar isso.»
E o que espera do Orçamento do Estado (OE) para 2024? «O OE que está em vigor [de 2023] pegou em 40 por cento de tudo o que é recursos públicos (seis mil milhões de euros) e colocou-os no sector privado da saúde. Ainda não conhecemos» o OE de 2024, «mas, tendo em conta as perspectivas que se avançam, há uma coisa que podemos dizer: se for igual ao deste ano e tiver as mesmas opções, então estamos perante um orçamento que não responde às necessidades», criticou o Secretário-Geral do PCP.
Pronunciou-se, também, sobre o papel da direcção executiva do SNS, «um organismo com uma pessoa que se encaixa nos objectivos do ministro e do Governo, que é desmantelar o SNS, e está a todo o vapor a concretizar esse objectivo», e sobre as recentes reuniões com os sindicatos dos médicos, que não passam de «muita propaganda e conversa».
Relativamente às propostas do PCP para resolver a situação, Paulo Raimundo frisou que primeiro é preciso «respeitar os profissionais da saúde». Entre outras medidas, o Partido defende mais profissionais de saúde no SNS; médicos e enfermeiros de família para todos; aquisição imediata de equipamentos de diagnóstico e terapêutica; construção, reconstrução, alargamento e reabertura de todos os edifícios hospitalares ou centros de saúde necessários; melhor resposta às necessidades das populações; diminuir os gastos das populações.