Coro dos cínicos
Em coro, com afinação ritmada pela batuta dos que se julgam mandantes do mundo, é ouvi-los reproduzindo o que os centros de dominação ideológica accionaram para prevenir arreliadoras dissonâncias que uma mais desprevenida leitura sobre os acontecimentos na Palestina e em Israel pudessem suscitar.
De Biden a Guterres, não fosse este tantas vezes regido pela pauta daquele, passando pelo vozear dos que, em escalão maior ou menor pela União Europeia, reproduzem o que os EUA determinam, aí estão em uníssono condenando quem facilmente se adivinha que condenem. Não os conhecêssemos e convivêssemos com a sua cínica duplicidade de critérios e poderíamos, tomados por assomo de ingenuidade, atribuir a mera distração não terem dado conta das atrocidades de Israel, anos a fio, em Gaza e em outros territórios. Despertos agora para as «vítimas civis» que ao longo de décadas desprezaram, papagueiam a «condenação do terrorismo», o mau, porque aquele que está erigido a política de Estado em Israel é dos bons, apelam agora ao que nunca antes os impelira a apelar. Nos entretantos, buscam-se já pretextos para em nome de ajuda militar estender presenças no Médio Oriente alinhadas com planos de hegemonização.
Neste coro de cínicos se ensaiam dramáticas leituras sobre o que designam de «dia mais longo» para ilustrar o que com impiedosa indiferença ignoraram na sucessão de dias, meses e anos em que Israel bombardeou e assassinou milhares de palestinianos, incluindo mulheres e crianças. Como se terrorismo não fosse sempre condenável ou a morte de inocentes distinta em função da procedência.
Nesta mão-cheia dos que, fingindo distracção, exibem o seu cinismo estão os que só encontraram palavras de condenação para a resistência palestiniana, permitiram que todos os acordos e resoluções ficassem por cumprir e fossem violados, que se inviabilizasse qualquer perspectiva de solução política, que se impusesse anos de bloqueio à Faixa de Gaza, que se tolerasse os crimes de Israel.