Crimes sem aspas
Nas vésperas de mais uma assembleia geral de obrigacionistas na qual se decidirá da venda a um fundo de investimento alemão chamado Mutares, a EFACEC celebrou um contrato para o fornecimento de várias dezenas de transformadores de potência à RTE – Operador do Sistema de Transmissão de França, necessários para a modernização da rede elétrica daquele país. Um negócio de «várias dezenas de milhões de euros» a que o Jornal de Negócios chamou de Jackpot Francês.
Recorde-se o percurso atribulado desta importante empresa industrial, com sucessivas intervenções do Estado português ao longo dos anos, a última das quais, realizada perante a situação de conflito accionista e pressão de credores (banca) que levou à «nacionalização» de 71% do capital, com o actual Governo PS a limitar-se a sanear financeiramente a empresa, injectando mais de 140 milhões de euros, e a preparar nova privatização.
Este novo contrato entre a EFACEC e a RTE está longe de ser o único. Aliás, é difícil encontrar outra empresa nacional com um portfolio tão vasto nas áreas da Energia, Transportes, Ambiente, Sistemas de Engenharia. Uma empresa que coloca Portugal, em certos domínios, na rota da mais avançada tecnologia (exporta para 60 países). E muito do que a EFACEC hoje é, deve-o também ao investimento público e a políticas de protecção da indústria nacional, que lhe permitiu adquirir competências fundamentais para enfrentar dificuldades decorrentes das imposições neoliberais da UE, como aquelas que hoje se fazem sentir para forçar a privatização, quer da EFACEC, quer da TAP. Duas privatizações que o Governo PS, em plena sintonia com PSD, CDS, Chega e IL, se prepara para levar a cabo.
A cada uma destas privatizações temos chamado crimes contra a economia nacional. E são de facto decisões criminosas, na medida em que, premeditada e conscientemente, retiram ao povo e ao País riqueza e instrumentos indispensáveis ao seu desenvolvimento. Crimes que deixam atrás de si um rasto de desemprego e dívidas públicas, que subtraem receitas ao fisco e à segurança social, que nos tornam mais pobres e dependentes, em benefício de multinacionais estrangeiras. Crimes que precisam de ser denunciados e combatidos, não dando por perdida nenhuma batalha antes de a travar. É essa a exigência que nos está colocada, tanto na EFACEC como na TAP.