Notícias do Níger, Mali e Burkina Faso

Carlos Lopes Pereira

As autoridades do Níger aceitaram a iniciativa da Argélia de solução pacífica para a crise no país oeste-africano. O presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, encarregou o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Ahmed Attaf, de deslocar-se a Niamey para contactos tendo em vista avançar com a mediação.

A 26 de Julho, oficiais nigerinos destituíram o presidente Mohamed Bazoum, aliado da França, justificando o movimento com «a contínua deterioração da situação de segurança» e «a má governação económica e social». Os militares criaram o Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria, liderado pelo general Omar Tchiani, e, nas semanas seguintes, o novo governo resistiu às ameaças de intervenção militar da França e da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (Cedeao). E, perante a hostilidade de Paris, ordenou a expulsão dos diplomatas franceses, medida já concretizada, e a saída das tropas da antiga potência colonial, até finais de 2023.

Neste processo, o Níger estabeleceu um pacto de defesa colectiva com o Mali e o Burkina Faso, também governados por militares que procuram libertar os seus países da canga neocolonial, e, no plano diplomático, contou sempre com o apoio da vizinha Argélia. Outro poderoso vizinho, a Nigéria, que preside à Cedeao, parece ter mudado agora de posição e «saudou» a mediação de Argel, fazendo baixar a tensão regional.

Também do Mali chegam notícias. Em Bamako, a missão das Nações Unidas no Mali (Minusma) informou que prossegue, até finais do ano, a retirada gradual das suas forças do país. Até agora saíram mais de três mil militares e civis de um total de cerca de 13 mil efectivos – que levarão com eles 5500 contentores de equipamento e quase 4000 viaturas, propriedade da ONU.

Num quadro de insegurança no Sahel – criado após a agressão da NATO à Líbia, em 2011 –, o governo maliano pediu recentemente à Minusma que abandonasse o país. Antes, procedeu de modo semelhante em relação às tropas francesas, expulsando-as e acusando Paris de, ao longo de uma década, não só não combater os terroristas que operam na região mas também de apoiar grupos extremistas.

No Burkina Faso, um dos países sahelianos que enfrenta o terrorismo e que, tal como o Mali e o Níger, decidiu romper os laços de dependência neocolonial, o governo provisório aprovou uma lei que proclama Thomas Sankara como herói nacional.

Mais de 37 anos após o seu assassinato, por traidores a soldo do imperialismo, o jovem capitão que militares patriotas colocaram na liderança do seu país (1983-1987) é evocado como o obreiro de um projecto ímpar em África de mudança social e económica.

Mudou o nome do seu país para Burkina Faso (terra dos homens dignos), adoptou uma política externa anti-imperialista, denunciou a dívida «odiosa» imposta aos países em desenvolvimento, nacionalizou terras e riquezas naturais, opôs-se à influência do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Lançou uma reforma agrária, priorizou a alfabetização e a educação, promoveu a saúde pública, incentivou a construção de estradas e caminhos de ferro…

Por tudo isso, Sankara foi assassinado. Mas o seu exemplo inspira hoje os burquinenses e outros povos africanos nas lutas contra a dominação estrangeira, pelo reforço da soberania e independência dos seus países.



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