«Vida adiada»

Margarida Botelho

«Retrato de uma geração com a vida adiada: 54% dos jovens até aos 34 anos não conseguem emancipar-se» – o Expresso da passada sexta-feira traz esta afirmação na primeira página. Lá dentro, a reportagem faz-se com dados do Eurostat: em 2022, mais de metade dos jovens até aos 34 anos ainda vivia com os pais, situação que se agravou em 15 pontos percentuais desde 2005. Isolando só a faixa etária dos mais velhos, dos 30 aos 34 anos, quase metade, 41%, continuava a viver com os pais.

A própria reportagem avança duas explicações: o preço das casas e os salários baixos. Portugal é, de novo segundo o Eurostat citado pelo Expresso, o segundo a pagar pior aos trabalhadores até aos 30 anos: uma média de 1050 euros brutos, que só é mais baixa na Grécia, perante uma média europeia de 1634 euros – e nisto das médias, como sabemos, há sempre uma fatia grande que recebe menos ainda. Basta pensar no número de jovens que ganha o salário mínimo nacional, ou nos jovens desempregados.

A hipótese de que ficar até tarde em casa dos pais é «cultural», própria de países mediterrâneos que gostam de ficar no ninho até tarde, esbarra na realidade. As contas são fáceis de fazer: entre empregos precários (a CGTP-IN denunciava recentemente, a propósito de dados do INE, que praticamente 60% dos jovens trabalhadores têm vínculos precários) e mal pagos, quem consegue arrendar uma casa, ou parte dela, ou pedir um empréstimo para comprar?

As consequências destes números dramáticos não são só individuais. São também, e muito, colectivas e sociais. Empurrar os jovens para a emigração, adiar os projectos de maternidade e paternidade, num país com um défice demográfico tão forte como o nosso, é gravíssimo. A dificuldade de fixar jovens trabalhadores, mesmo de profissões qualificadas, como médicos ou professores, em certas regiões do País, como as áreas metropolitanas ou o Algarve, é reveladora de como os baixos salários e o preço da habitação condicionam a vida do País, e não só os sonhos dos jovens.

O aumento dos salários, a par de medidas sérias de promoção do direito à habitação, são urgentes. Sob pena de deixar muito mais do que «uma geração com a vida adiada».




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