Não baixar a guarda!

Albano Nunes

É necessário intensificar a luta antifascista

As eleições de 23 de Julho em Espanha deixaram incertezas quanto à formação do próximo governo, mas uma coisa é certa: os resultados não foram aqueles que a reacção desejava e que a generalidade da comunicação social dominante promovia e antecipava. A pura e dura direita espanhola, na sua actual configuração (Partido Popular mais Vox), não alcançou a maioria absoluta que lhe garantisse formar governo, o ultra Vox sofreu um grande revés e foi para já afastado o perigo de surgir na Europa mais um governo integrando forças abertamente racistas e fascizantes.

Na actual conjuntura europeia e mundial, tão importante acontecimento deve ser saudado e valorizado, pois representa uma importante derrota da reacção, sem entretanto perder de vista que, perante a crescente banalização, normalização e promoção do fascismo, é necessário não baixar a guarda e intensificar a luta antifascista.

O avanço do fascismo é inseparável do aprofundamento da crise do sistema capitalista e das tentativas do imperialismo norte-americano e seus aliados para contrariar o seu declínio, sufocar pela violência a resistência e a luta dos trabalhadores e dos povos e impor a sua hegemonia no plano mundial. O fascismo não se reduz a uma mera opção política, tem raízes sócio-económicas e natureza de classe. É, como aconteceu em Portugal, a ditadura terrorista do grande capital monopolista, e enquanto este não for desalojado do seu poder económico e político, as liberdades e direitos democráticos fundamentais que a democracia burguesa é forçada a consentir, não estará afastado o perigo fascista.

Como a história mostra, o grande capital, o imperialismo, é capaz dos maiores crimes quando sente o seu poder ameaçado. Foi o que aconteceu há 50 anos com o sangrento golpe militar fascista que transformou o Chile num sinistro campo de experiência das teorias «neoliberais» dos Chicago boys, teorias que embora em crise ainda hoje pontificam na União Europeia. Ou acontece na Ucrânia, onde um governo nazi é promovido a exemplar bastião de defesa da «democracia, dos valores e do modo de vida do Ocidente».

A escalada militarista de confrontação, a imposição de brutais políticas de «austeridade», os crescentes ataques a direitos e liberdades fundamentais e a repressão violenta de grandes lutas populares (como em França), a rendição da social-democracia ao neoliberalismo e às imposições do imperialismo norte-americano, a banalização da participação de forças da extrema-direita num crescente número de países (como na Itália), expressam uma perigosa tendência que, não sendo irreversível, como muitos procuram fazer crer, tem de ser afrontada com determinação e confiança. A começar pela luta contra a onda de um revisionismo histórico que não só branqueia o negro historial fascista, como traça um infame paralelismo entre fascismo e comunismo e chega mesmo ao ponto de responsabilizar a União Soviética pela tragédia da II Guerra Mundial, como acontece em resoluções do Parlamento Europeu.

É preciso não baixar a guarda e afrontar o imperialismo, o militarismo e a guerra. E fazer

da luta dos povos a verdadeira barreira à barbárie.

 



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