Jovens de chuchesso
O recente estudo editado pela Fundação Pingo Doce sobre as questões da habitação tem a marca de classe na sua génese. Para alguma coisa as fundações privadas usam o dinheiro roubado pelos seus patronos para raptar o papel que deveria caber às instituições públicas. É para condicionarem a investigação e o estudo, e procurarem influenciar directamente as políticas à medida dos interesses – de classe – dos patronos.
O estudo começa por constatar o óbvio, aquilo que infelizmente nenhum de nós necessita estudar para saber: não se pode alugar ou comprar casa em Lisboa ou Porto. E não só. Alerta o estudo que o capital inicial «aumentou para a casa mediana de cerca de 30 mil para 56 mil euros no concelho de Lisboa, e de cerca de 16 mil para 37 mil euros no concelho do Porto, entre 2017 e 2022». E as prestações ou rendas atingem valores não menos exorbitantes.
E depois concluem, mal, que «hoje, um jovem (ou casal), para adquirir ou arrendar casa, tem de estar inserido com muito sucesso no mercado de trabalho, e no caso de aquisição, ser capaz de acumular poupanças a um ritmo acelerado». Mal, porque a afirmação é absolutamente falsa: o mais preguiçoso e incapaz herdeiro de um monte de acções do Pingo Doce pode alugar uma casa em Lisboa sem ter trabalhado um único dia na sua vida. Mal também porque uma inserção com muito sucesso no mercado de trabalho, como por exemplo conseguir entrar no Metro para maquinista, ou ser electromecânico na CP, ou motorista nos STCP, ou professor no quadro, não garante as condições para arrendar, comprar ou muito menos acumular significativas poupanças. Porque os salários são baixos em Portugal.
E, claro, qual a solução para um problema que nem conseguem ver? Subsidiar os especuladores e os rentistas, injectando dinheiro público para manter os preços altos, e colocar terrenos públicos a alimentar a especulação imobiliária. Mais do mesmo, mas com o Estado a ajudar que o povo já não aguenta alimentar tanto parasita. Aumentar salários e socializar a habitação, desmercantilizando-a, é um caminho que não vêem, e se vissem não podiam apontar.