Crise e perigos
É preciso que se faça sentir a voz dos povos
A crise mundial do capitalismo aprofunda-se a uma velocidade vertiginosa. O «fim da História» e a «vitória definitiva do capitalismo liberal», que alguns nos quiseram vender, transformaram-se num tempestuoso vendaval que atinge os mais diversos países e regiões. Todos os dias uma catadupa de notícias confirma estarmos perante uma crise de enormes proporções.
A nova explosão social no «jardim» de Macron, Borrell e von der Leyen não é apenas um problema de violência policial e comunidades descendentes de imigrantes. É já a terceira grande revolta em França nos últimos anos. Não surpreende. O país tem um presidente que começou os seus mandatos pondo fim ao imposto sobre as grandes fortunas e dando outras benesses aos milionários. O «Presidente dos ricos» invocou depois a «defesa do ambiente» para impôr novos impostos sobre quem trabalha com as suas viaturas (a faísca para o protesto dos Coletes Amarelos) e a «insustentabilidade das finanças públicas» para desencadear o ataque às reformas de quem trabalhou toda a vida. Não podia ser mais evidente a natureza de classe da sua política. A resposta de Macron às explosões sociais em França é o aumento da repressão e um autoritarismo crescente, política que também vem de trás e não começou com os episódios de violência gratuita que favorecem o clima de insegurança e ajudam à promoção que a comunicação social ao serviço do grande capital faz da extrema-direita.
Para a escalada militar da NATO na Ucrânia também não há contenções orçamentais. Escolha que tem outros custos: em 2022 a França registou o seu maior deficit comercial desde a II Guerra Mundial, 164 mil milhões de euros, praticamente o dobro do ano anterior (Le Monde, 7.2.23), «quase inteiramente (86%) devido às importações de energia», segundo a nota oficial que acompanhou a divulgação dos dados. Ou seja, devido ao efeito combinado das sanções e do mecanismo de fixação de preços energéticos concebido para encher os bolsos dos especuladores, ambos decretados pela UE.
Repressão e violência é a realidade que o povo palestiniano conhece há décadas. Mas o novo governo de Netanyahu, onde predominam fascistas defensores da ocupação de todo o território histórico da Palestina, desencadeou uma brutal campanha de repressão, na mais total impunidade. São já mais de 180 os palestinianos assassinados este ano pelas forças repressivas de Israel ou pelos pogroms promovidos por colonos israelitas. A razia das forças armadas no campo de refugiados de Jenin provocou no dia 3 de Julho 10 mortos e mais de 100 feridos. Nas proclamações sobre «direito à independência» ou «direitos humanos» invocados desde há décadas para alimentar as guerras da NATO, não há lugar para os palestinianos. Nem para a Síria, bombardeada por Israel pela 19.ª vez este ano, sem que chegue sequer a ser notícia na comunicação social.
Os dias que nos separam da Cimeira da NATO em Vilnius serão dias de intensos perigos. Tendo afundado o planeta numa enorme crise, sectores importantes do grande capital financeiro que comanda as potências imperialistas apostam numa escalada de confrontação e guerra, que ameaça uma catástrofe de grandes proporções. Os perigos de grandes provocações que sirvam de pretexto a essas escaladas são reais. É preciso que se faça sentir a voz dos povos.