Descubra as semelhanças

Filipe Diniz

William Randolph Hearst (1863-1951) foi, como é sabido, um magnata norte-americano dos meios de comunicação social. O seu legado tem marcos notáveis: foi grande impulsionador da guerra EUA/Espanha em Cuba, com editoriais e notícias incendiárias, muitas delas falsas. Conta-se que terá dito a um ilustrador que enviara a Cuba e informava que tudo estava em paz: «Fique aí. Forneça-nos as imagens e nós fornecemos a guerra.»

Foi um ardoroso simpatizante nazi. Ordenava aos seus jornalistas que reportassem positivamente a actividade dos nazis, e despedia quem se recusasse a escrever favoravelmente sobre o fascismo alemão. Publicou regularmente no seu New York Journal – sem qualquer contraditório – colunas escritas por Göering, Rosenberg, até por Hitler e Mussolini.

Ajudou a construir o mito da imprensa como «4.º poder». Um texto académico de 1941 sobre o «poder da imprensa» procurava arrumar assim as coisas: as colunas de notícias eram mais amplamente lidas do que as páginas editoriais; a função destas últimas era interpretar as notícias segundo uma determinada opção política. Nem na altura era assim. O que realmente acontece – e acontece desde antes de Hearst – é que o que passa como «notícia» nos média dominantes é já, em geral, política e ideologicamente formatado. É o «editorial» contrabandeado.

Os média não são um poder com uma dinâmica autónoma. São, nas mãos da classe dominante, instrumentos ao serviço da dominação social, política, ideológica, cultural. São instrumentos da propaganda de Estado e, como observa Chomsky, «quando nenhum desvio é permitido em relação a ela, podem ter um grande efeito». E é significativo ligar um canal de televisão ou abrir as páginas de um «jornal de referência» e constatar que a propaganda de Estado aí veiculada nem sequer é a do Estado português, mas a de uma espécie de super-Estado chamado EUA/NATO/UE.




Mais artigos de: Opinião

Os compromissos deles são com o grande capital…

Passado quase um ano e meio das eleições legislativas, a vida confirmou a natureza das opções políticas do Governo PS e os interesses que serve. Da atribuição de novos benefícios fiscais ao patronato e aos grupos económicos à transferência de recursos públicos para grupos privados, da...

Três mil e novecentos

Esta é, em metros, a profundidade do Oceano Atlântico na zona onde se encontram os destroços do Titanic, um dos mais «mediáticos» naufrágios da História, que deu origem a livros, documentários, filmes, expedições e ao milionário negócio da aventura submarina. 3900 metros é, por isso, a profundidade a que estarão os...

Balanços

Ano após ano, em meados de Junho, temos, justamente, a atenção mediática dedicada aos fatídicos acontecimentos que, em 2017, para além de incontáveis prejuízos materiais, vitimaram, em Pedrógão Grande, mais de seis dezenas de cidadãos, nas suas casas ou quando procuravam fugir do brutal incêndio que, por esses dias,...

Naufrágio

A perda de vidas humanas é sempre de lamentar e não se questiona que em situações de risco cabe à sociedade mobilizar os recursos necessários para resgatar as vidas em perigo. Algo tão elementar tornou-se no entanto nos últimos dias numa caricatura macabra do mundo civilizado que é suposto ser o nosso. A trágica...

O imperialismo não é invencível

O combate à demencial pretensão do imperialismo norte-americano de impor ao mundo o seu domínio totalitário exige a mobilização mais ampla possível das forças do progresso social e da paz. Uma mobilização esclarecida sobre os enormes perigos que pairam sobre a Humanidade, mas que confie na real possibilidade de derrotar...