Descubra as semelhanças
William Randolph Hearst (1863-1951) foi, como é sabido, um magnata norte-americano dos meios de comunicação social. O seu legado tem marcos notáveis: foi grande impulsionador da guerra EUA/Espanha em Cuba, com editoriais e notícias incendiárias, muitas delas falsas. Conta-se que terá dito a um ilustrador que enviara a Cuba e informava que tudo estava em paz: «Fique aí. Forneça-nos as imagens e nós fornecemos a guerra.»
Foi um ardoroso simpatizante nazi. Ordenava aos seus jornalistas que reportassem positivamente a actividade dos nazis, e despedia quem se recusasse a escrever favoravelmente sobre o fascismo alemão. Publicou regularmente no seu New York Journal – sem qualquer contraditório – colunas escritas por Göering, Rosenberg, até por Hitler e Mussolini.
Ajudou a construir o mito da imprensa como «4.º poder». Um texto académico de 1941 sobre o «poder da imprensa» procurava arrumar assim as coisas: as colunas de notícias eram mais amplamente lidas do que as páginas editoriais; a função destas últimas era interpretar as notícias segundo uma determinada opção política. Nem na altura era assim. O que realmente acontece – e acontece desde antes de Hearst – é que o que passa como «notícia» nos média dominantes é já, em geral, política e ideologicamente formatado. É o «editorial» contrabandeado.
Os média não são um poder com uma dinâmica autónoma. São, nas mãos da classe dominante, instrumentos ao serviço da dominação social, política, ideológica, cultural. São instrumentos da propaganda de Estado e, como observa Chomsky, «quando nenhum desvio é permitido em relação a ela, podem ter um grande efeito». E é significativo ligar um canal de televisão ou abrir as páginas de um «jornal de referência» e constatar que a propaganda de Estado aí veiculada nem sequer é a do Estado português, mas a de uma espécie de super-Estado chamado EUA/NATO/UE.