Écrãns, ideologia e direitos
Veio recentemente a público um estudo (realizado com jovens de oito países) que refere que 86 por cento dos jovens portugueses admitem estar viciados nas redes sociais, e que é através destas que 80 por cento deles preferem comunicar, apesar de dois em cada cinco terem consciência de que as redes sociais lhes fazem mal.
Ora, sabe-se hoje que as redes sociais são apenas uma das múltiplas plataformas que, desde tenra idade, põem as crianças e os jovens em contacto com ecrãs lúdicos e que a excessiva exposição aos mesmos, como reconhecem especialistas na matéria, afecta fortemente o seu desenvolvimento, desde a linguagem à concentração, da memória à inteligência, da sociabilidade ao controlo emocional e ao desenvolvimento motor.
Por outro lado, as redes sociais procuram assumir-se como suposto espaço de «democracia virtual», procurando alimentar nos jovens a ideia de que «navegando» nelas, são verdadeiramente livres de se afirmarem e de serem quem querem ser. Mas, na realidade, estes são espaços de formatação ideológica, de manipulação e enviesamento. Não raras vezes são usadas como campos de promoção de «valores» antidemocráticos com forte pendor anticomunista, de ideias e projectos reaccionários. Ou não fosse o grande capital a controlá-las...
Dizem alguns que o problema é dos pais, mas, na verdade, é sobretudo um problema de sociedade, de educação escolar e de saúde pública. É um problema que resulta da privação de direitos das crianças, dos jovens e dos pais, nomeadamente, da falta de tempo dos pais para o convívio com os filhos, de condições gerais – materiais, humanas, culturais – de vida. Uma realidade que se agravou com o isolamento forçado durante a epidemia e se acentua com escolas e mesmo cidades que não têm condições para as crianças brincarem e jogarem. É um problema que resulta, em grande parte, da agressividade comercial – agravada pela falta de regulação nesta área – com que as multinacionais associadas ao «negócio dos ecrãs» fazem fortuna à custa da saúde das crianças e dos jovens.
Bem vistas as coisas, é um problema da política de direita. Quando se deixa (e até promove) que seja o grande capital a determinar a política, os hábitos e as regras sociais e, a explorar e desumanizar a vida das pessoas este – como muitos outros problemas – não deixará de se agravar.