Uma questão de (in)dependência

Em qualquer conversa com responsáveis na comunicação social há uma linha vermelha relativamente à qual estes são, invariavelmente, intransigentes: a existência de um centro definidor do que é notícia e das linhas de força do tratamento dessa notícia: (Quase) todos dirão que têm liberdade plena no plano editorial, na decisão da notícia a que vão dar atenção e na definição da abordagem editorial. A realidade, no entanto, parece desmentir essas loas à liberdade de imprensa vigente.

A última semana continuou dominada, no plano mediático, pela Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a gestão da TAP. Sublinhe-se este elemento, sobre a gestão da TAP. Foram horas intermináveis e páginas bastantes as dedicadas às audições do ex-adjunto Frederico Pinheiro, à chefe de gabinete Eugénia Correia e ao ministro João Galamba. É certo que a TAP é uma empresa estratégica e de enorme importância para o País e que o que se tem passado e o que se prepara em torno da transportadora aérea reveste-se de múltiplos indícios criminais: políticos, económicos e de outras naturezas. Mas toda a concentração mediática seguiu acriticamente os que, no plano político, querem apontar atenções para casos laterais à TAP. Independentemente da gravidade dos mesmos, enquanto a discussão pública se debruça exclusivamente sobre computadores e telemóveis, a preparação da privatização da TAP prossegue sem qualquer escrutínio mediático. Acrescente-se que o tema da privatização da TAP – a questão central para o futuro da empresa – foi levado às audições pelo PCP. É mesmo de opções editoriais que estamos a falar.

Este não é caso único. É recorrente vermos que as notícias são iguais, mas particularmente que os ângulos de abordagem são os mesmos e os personagens tratados como heróis e vilões não diferem, do jornal, à rádio, ao canal de televisão. Recentemente tivemos um outro exemplo: antes de alguém falar na hipótese de dissolução da Assembleia da República, já esse era um tema mediático, servindo de pressão sobre as declarações do Presidente da República e assumindo, por vezes, a forma de um quase apelo à apresentação de moções de censura.

A liberdade editorial desapareceu e deu lugar a uma corrida na qual a verificação dos factos, a análise objectiva ou a ponderação do valor-notícia de cada facto ou acontecimento são substituídos por uma absurda competição para ver quem faz o primeiro directo, quem mete em antena o primeiro comentador, quem é o primeiro a fazer a pergunta. É isto que, hoje, diferencia a generalidade da comunicação social. Pouco importa se o tal centro que define o que é notícia assume forma física ou não, se consiste na emissão de directivas a quem decide o alinhamento dos noticiários ou se estes já sabem as regras do jogo, se os jornalistas levam perguntas encomendadas ou já sabem que ou surfam a onda ou o seu trabalho é descartado.

A verdade é que tudo isto contribui para um caminho que redunda em órgãos de comunicação social e jornalistas cada vez mais dependentes e constrangidos no exercício da sua função de informar e esclarecer.

 



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