Recordar as guerras da NATO contra a Jugoslávia e a Líbia
Para além da agressão ao Iraque, em 2003 (ver páginas 24 e 25), completaram-se neste mês de Março 24 anos sobre a agressão da NATO à Jugoslávia e 12 sobre o início dos ataques à Líbia, respectivamente nos dias 24 e 19.
Defesa intransigente da paz é o único caminho viável para assegurar o futuro
O CPPC condenou e denunciou, mais uma vez, «para que não se repita», o que se passou há 24 anos, no dia 24 de Março de 1999. Iniciava-se, então, o ataque militar à República Federativa da Jugoslávia (Sérvia e Montenegro) levado a cabo pela NATO sob comando dos EUA, à revelia do Conselho de Segurança das Nações Unidas e em violação da Carta da ONU, da Acta Final da Conferência de Helsínquia e de princípios básicos do direito internacional.
Nos 78 dias que duraram os bombardeamentos por mar e ar, além de objetivos militares, foram destruídos ou danificados edifícios governamentais, hospitais, aeroportos, centrais de electricidade e de abastecimento de água, pontes, mercados, fábricas, comboios, a Rádio Televisão da Sérvia e outras infra-estruturas civis, incluindo igrejas centenárias. Milhares de civis morreram ou ficaram feridos em resultado dos continuados ataques; o emprego de munições de urânio empobrecido, de grafite ou de fragmentação, e de outros materiais tóxicos, causaram danos na população e no meio ambiente que ainda persistem.
Essa operação militar, então publicitada pelos meios de comunicação social dominantes como «missão humanitária de manutenção da paz», deu o golpe final no Estado multiétnico da Jugoslávia, que desapareceu na subdivisão em múltiplos Estados de raiz étnica, enfraquecidos, controláveis pelos perpetradores do ataque, e prontos a ser outros tantos postos militares avançados dos EUA. Estava, assim, removido um obstáculo ao domínio da importante região dos Balcãs e dado um impulso à expansão da NATO e militarização do leste da Europa, em conformidade com os desígnios geoestratégicos dos EUA.
Esta intervenção militar abriu igualmente um grave precedente com a imposição da instauração de um protectorado da NATO, o Kosovo.
A agressão constituiu a abertura de um precedente para o que viria a ser um padrão de actuação dos EUA e aliados nas décadas seguintes, nomeadamente, nas intervenções no Afeganistão, Iraque, Síria, Líbia, Mali.
Num momento como o actual, importa lembrar como os graves acontecimentos de há 24 anos na Jugoslávia foram forjados a partir de objectivos, métodos e meios que não só continuam presentes como, com o tempo, se tornaram ainda mais pervasivos e perigosos, considera o CPPC. Importa, pois, manter viva a memória desses factos «para fazer frente à barragem da propaganda mediática, às mentiras difundidas como se fossem verdades incontestáveis, à sistemática manipulação a que os povos são diariamente submetidos». Porque, sublinha, «a defesa intransigente da paz apresenta-se como o único caminho viável para assegurar o futuro da Humanidade; e, hoje, como ontem e sempre, essa defesa exige cidadãs e cidadãos informados, lúcidos e determinados».
Intervenção da NATO destruiu Estado da Líbia
A 19 de Março de 2011, EUA, França, Grã-Bretanha e NATO desencadearam uma guerra contra a Líbia, intervenção que o PCP firmemente e de imediato condenou.
«Tirando partido de uma situação interna de conflito, a agressão contra o povo líbio só agravará esse mesmo conflito e provocará ainda maior instabilidade em toda a região do Magrebe e Médio Oriente. São as enormes riquezas naturais da Líbia – nomeadamente o petróleo e o gás natural – e a importância geoestratégica deste país, que movem aqueles que desencadeiam e apoiam mais esta agressão imperialista, e não quaisquer princípios de defesa da democracia, da liberdade e da autodeterminação do povo líbio», afirmaram então os comunistas portugueses.
A intervenção militar da NATO contra a Líbia foi preparada e sustentada numa hipócrita campanha mediática de desinformação em torno da «liberdade», dos «direitos humanos» e da «defesa das populações civis» em tudo similar às agressões contra a Jugoslávia, o Iraque e o Afeganistão.
Hoje, volvidos 12 anos, a Líbia, outrora um dos países mais desenvolvidos da África, está dividida, enfraquecida pela guerra e impedida de aproveitar os seus recursos naturais no interesse do seu povo.
55 anos do massacre de My Lai,
um dos crimes dos EUA no Vietname
Fez agora, em Março, 55 anos: o massacre de My Lai foi uma das piores matanças de civis perpetrada por militares dos EUA durante a guerra de agressão ao Vietname.
Pelo menos 504 camponeses e familiares, com idades entre um e 82 anos, de uma remota aldeia vietnamita, na província de Quang Ngai, no sul do país, foram massacrados por militares norte-americanos.
A operação começou na manhã de 16 de Março de 1968. Depois de um bombardeamento de artilharia de cinco minutos, as tropas desembarcaram dos helicópteros que os transportaram, mas verificaram que não havia guerrilheiros vietnamitas no povoado – uma pequena unidade de milicianos tinha deixado o local pouco antes.
Ao não encontrar o que procuravam, os soldados abriram fogo sobre os camponeses que trabalhavam nos arrozais próximos e atacaram a aldeia, disparando sem cessar com armas automáticas e lançando granadas para o interior das habitações, onde se encontravam, sobretudo, idosos, mulheres e crianças.
O comandante da operação foi o tenente William Calley, que, segundo alegou mais tarde, ordenou o bombardeamento de My Lai para criar uma zona de descida de helicópteros e obrigar os habitantes locais a abandonar o local.
As chefias militares e os governantes dos EUA conseguiram encobrir os acontecimentos de My Lai durante algum tempo. Até que um piloto de helicóptero, Ron Ridenhour, que soube do massacre, apesar de não ter participado nele, iniciou uma campanha para revelar os factos.
Nos EUA, escreveu cartas ao presidente Richard Nixon, ao Departamento de Estado, à Junta de Chefes do Estado Maior e a vários congressistas. Por fim, não tendo obtido respostas, prestou declarações sobre o assunto ao jornalista de investigação Seymour Hersh, que publicou o artigo em 1969.
A reportagem de Hersh sobre o «assassinato à queima-roupa» em My Lai, que valeu ao jornalista o Prémio Pulitzer em 1970, foi publicada em jornais dos EUA e de outros países, juntamente com fotografias do massacre.
Vários oficiais e soldados foram acusados de delitos relacionados com o massacre, entre eles o tenente Calley e o capitão Ernest Medina. Com excepção de Calley, todos os acusados foram absolvidos ou viram serem-lhes retiradas as acusações antes do julgamento, com a alegação de que só cumpriram ordens. Após um conselho de guerra em 1971, Calley foi considerado culpado de matar 22 civis vietnamitas e condenado a prisão perpétua, mas foi posto em liberdade condicional em 1974.