Máquina de guerra

Cristina Cardoso

O imperialismo está apostado na confrontaçã

A guerra na Ucrânia continua a não ter fim à vista, com os EUA, a NATO e a UE a aumentarem as suas despesas militares para alimentarem o conflito com a entrega de mais armamento à Ucrânia, para esta, em seu nome, combater e enfraquecer o que dizem ser a «ameaça imediata» que representa a Rússia. No entretanto, somam-se as baixas militares, as vítimas civis, a destruição de localidades em ambos os lados, uma tragédia, particularmente para os povos ucraniano e russo.

Com a máquina bem oleada, geram-se lucros astronómicos da indústria militar, em especial para o complexo militar-industrial dos EUA, que nos últimos quatro anos representaram cerca de 40% das exportações globais de armas (dados do Instituto Internacional de Pesquisa sobre a Paz de Estocolmo – SIPRI). Percebe-se, neste sentido, a falta de interesse na paz, quando para os senhores da guerra valores mais altos que as vidas humanas se levantam. A guerra é um negócio e não há nada mais rentável que criar a insegurança e a desestabilização para alimentar a corrida aos armamentos. A devastação e horror da guerra não contam na lógica da imposição a todo o custo do domínio do imperialismo norte-americano.

Como não lhes chega a guerra na Ucrânia, a contínua desestabilização do Médio Oriente ou os conflitos em África, o imperialismo está apostado na provocação e instigação da tensão e do conflito na região Ásia-Pacifico, apontando à China, arregimentando os seus aliados na região, com destaque para a Austrália e o Japão.

Os acontecimentos atropelam-se. Taiwan tem sido utilizada como instrumento da estratégia de confrontação crescente do imperialismo contra a República Popular da China. A intensificação da cooperação militar entre EUA e Taiwan e a aprovação, no início deste mês, por parte do Departamento de Estado da administração norte-americana, de uma venda de armas e equipamentos no valor de 619 milhões de dólares, são a mais recente afronta à soberania e integridade territorial da China, que tem reiterado o «princípio de uma só China», a não aceitação da interferência de forças externas e de actividades separatistas.

O AUKUS – bloco político-militar entre EUA, Reino Unido e Austrália, criado contra a China – realizou, esta semana, a sua cimeira anunciando que a Austrália vai adquirir submarinos nucleares. A China acusa os EUA e o Reino Unido, duas potências nucleares, de não respeitarem o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e de, ao transferirem tecnologia e materiais nucleares, ferirem a paz e a estabilidade na região.

Também esta semana, o Reino Unido lança o documento de Revisão da sua política externa onde rotula a China como «desafio sistémico e definidor de uma era» e referindo por mais do que uma vez a questão de Taiwan.

A aposta na desestabilização da região Ásia-Pacífico tem-se claramente intensificado. A linha do imperialismo norte-americano em estabelecer uma «nova ordem com regras» e garantir o seu domínio hegemónico passa pelo confronto, planeado e preparado, com aquele que aponta como seu «adversário estratégico», a República Popular da China. Um perigoso caminho belicista que os EUA estão a trilhar, que passa também pela guerra na Ucrânia e que ameaça a paz global e todos os povos do mundo.

 



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