O ridículo mata

Manuel Gouveia

De tanto falarem sozinhos, de tanto seguirem guiões descaradamente escritos por equipas profissionais da área do espectáculo, os média que se colocam ao serviço da NATO começam a ficar ridículos.

Que os russos, sem armas há um ano, combatem com pás. Que os russos atacam sistematicamente a única central nuclear da região sob controlo russo, e nunca as cinco sob controlo ucraniano. Que se vai criar um movimento para mudar o nome da Rússia para um nome escolhido pela NATO. Que Putin tem, desde há um ano, uns meses de vida devido a uma doença incurável. Que os russos raptam as crianças do Donbass para as reeducar (é verdade que ainda não disseram que é para as comer, talvez porque Putin não é comunista). Que as tropas russas usam a violação sexual como arma sistemática. Que o ataque ao Nordstream foi provocado por acidente por um grupo de mergulhadores.

É tudo tão estúpido, tão gratuito, tão ridículo, que pode tender a ser desvalorizado. Mas este ridículo mata. Mata ucranianos principalmente, que são a maior vítima desta guerra. Sem esquecer que a russofobia promovida por toda esta estupidez pretende engajar apoios para o prolongar da guerra e para o crescente envolvimento dos países da NATO, incluindo com tropa, no conflito. E pretende criar barreiras permanentes, desumanizar o adversário, criar um Estado de guerra na Europa que dure por largos anos.

Que alguém deseje esse estado de guerra é normal. Nomeadamente os alguéns que cimentaram o seu poder planetário com duas guerras mundiais travadas, no essencial, na Europa, e que estavam a sentir a hegemonia escorregar-lhes das mãos para uma multipolaridade de que pensavam ter-se livrado.

Cabe aos povos da Europa recusarem-se a ser carne para canhão nesta guerra. E impor – pela luta – um caminho para a paz que respeite os direitos de todos os povos envolvidos.

 



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