Hipotéticos mas tão reais

Gonçalo Oliveira (Membro da Comissão Política)

O futuro que está a ser preparado para os distritos de Bragança e Vila Real é preocupante

Atravessamos um período de rápidos e importantes desenvolvimentos na situação internacional e nacional.

Na perspectiva de um partido revolucionário, momentos como este são férteis em perigos e potencialidades. Tornam mais evidente a natureza do sistema capitalista, reforçando assim a importância do projecto político de transformação social do PCP.

Foi nesse contexto que a última Conferência Nacional, a partir das grandes exigências que se colocam à luta dos trabalhadores e do povo, apontou o caminho do reforço da organização e intervenção do Partido, da sua acção integrada e centrada na resposta aos problemas concretos das pessoas.

Na perspectiva de um trabalhador português, será difícil identificar o que o inquieta mais: o aumento constante do custo de vida, a situação política do País, a escalada aparentemente imparável da guerra, a falta de respeito pelos seus direitos ou a degradação dos serviços públicos. Esses problemas, e muitos outros, entrelaçam-se na sua mente, formando um emaranhado de preocupações.

Mas esse hipotético trabalhador saberá que não é apenas ele que está a sentir a pressão causada por uma vida difícil. Saberá que muitos trabalhadores estão a passar pelo mesmo: a lutar para sobreviver num País que parece estar a trabalhar contra eles.

Apesar de todas as preocupações, a vida continua, e esse trabalhador precisa de sair de casa para, por exemplo, levar a sua criança para a creche. Mesmo quando essa creche fica a 20 km de distância, como acontece em Vila Real, onde a única vaga disponível na dita «Creche Feliz» fica na freguesia da Campeã – são os problemas causados pela «progressiva gratuitidade» decidida pelo PS.

E se esse hipotético trabalhador tiver como local de trabalho o Centro Hospitalar do Alto Douro e Trás-os-Montes terá que dar resposta aos problemas dos utentes, apesar da falta de Director Clínico há seis meses e do Conselho de Administração estar em gestão há mais de um ano – são os problemas causados pela procrastinação do Ministério.

Se for trabalhador do Casino de Chaves ou da McDonalds de Vila Real, da Águas do Interior Norte ou da Resíduos do Nordeste, da Multitrab ou da Sortegel, da Varandas do Sousa, da Continental Antenna ou da Faurecia, se for professor na Escola Pública, funcionário de uma Câmara Municipal ou trabalhador agrícola nas Quintas do Douro… terá, conforme o caso, os seus problemas específicos – são os problemas causados pela exploração capitalista e pela política de direita.

Algo que esses trabalhadores terão em comum, no entanto, será a intervenção do PCP em defesa dos seus direitos, bem como o seu apoio e solidariedade na luta por uma vida melhor.

Apesar da beleza da paisagem que permeia aquela região, das montanhas que se erguem majestosas, em contraste com vales fecundos e pequenos povoados dispersos pelo horizonte, o futuro que está a ser preparado para os distritos de Bragança e Vila Real é preocupante e os problemas do País, que parecem tão distantes daquela paisagem idílica, abatem-se ali com particular intensidade.

Agora que se aproxima a realização de uma importante manifestação nacional da CGTP-IN em Lisboa, para onde deve convergir a exigência de resposta a todos estes problemas concretos, essa solidariedade demonstra-se na mobilização dos trabalhadores dos distritos de Bragança e Vila Real para a luta, mesmo que os desafios pareçam insuperáveis, mesmo que custe fazer a viagem de ida e volta de autocarro.

 



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