Trastes autárquicos
Com três dias de intervalo ficámos a saber que o município de Santa Comba Dão vai avançar com o Museu Salazar e que Moedas entende que «não faz sentido» um monumento a Vasco Gonçalves em Lisboa.
Diz o autarca da terra de Salazar, com toda a desfaçatez, que este espaço é «absolutamente necessário» para «interpretar os factos» e compreender as «virtudes da democracia».
Moedas, com igual desfaçatez, justifica recusar algo que tinha anteriormente aceitado, porque quando o fez «estava cansado».
Os dois trastes são de partidos diferentes mas cabem no mesmo saco. Por muito que o poder local democrático seja uma conquista de Abril, não faltam municípios que têm à frente gente, digamos assim, de Novembro, para não se dizer coisa pior.
O autarca de Santa Comba passa por cima da ampla condenação nacional da iniciativa, incluindo pela Assembleia da República. É todavia provável que não lhe falte o «financiamento» de que anda à procura. Tal como não falta aos IL e Chega desta vida, também não deverá faltar ao seu local de romagem para saudosos do fascismo.
E o troca-tintas Moedas está enganado. Aquilo que para ele não faz sentido faz muito sentido para o povo. Mais cedo ou mais tarde existirá em Lisboa um monumento ao grande militar de Abril. E muito, mas muito depois de Moedas ser esquecido, permanecerá ainda o afecto e a memória popular de Vasco Gonçalves e de todos os grandes obreiros do Portugal democrático.
É com gente deste calibre que alguns municípios celebrarão os 50 anos do 25 de Abril. Ou seja, celebrarão não a Revolução mas o que se opôs a ela. O que significa uma muito acrescida responsabilidade: cabe ao povo – às gerações que o viveram e às jovens gerações que o assumem como seu – dar às celebrações o cunho essencial, de liberdade, futuro, soberania, paz. E fazer por arrumar com tanta teia de aranha reaccionária.