Zig-zag’s

Vasco Cardoso

A 25 de Janeiro deste ano o PCP propôs o alargamento do âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito/CPI à TAP. Fizemos essa proposta não por qualquer desvalorização quanto à gravidade decorrente da indemnização atribuída a Alexandra Reis quando esta saiu do Conselho de Administração da companhia (no valor de 500 mil euros) mas porque, sendo este acto uma prática recorrente na gestão privada, importava fazer uma avaliação mais profunda sobre as consequências do último processo de privatização a que a TAP foi sujeita no final de 2015 por decisão de um governo PSD/CDS já derrotado.

Essa proposta do PCP foi rejeitada pelo PS e pelo BE. Podemos especular sobre as razões para impedir na altura esse apuramento, mas uma coisa é certa: denunciar as práticas de gestão privada são um importante instrumento para impedir uma futura privatização. Não foi essa a opção do PS e do BE.

Entretanto, mais água correu debaixo da ponte e aquilo que já se suspeitava na altura saltou para a praça pública. Entre outros aspectos, os seguintes: David Nielman comprou a TAP com dinheiro da própria TAP, num negócio que lesou a companhia em 400 milhões de euros; durante os anos de gestão privada, vários administradores foram pagos principescamente por debaixo da mesa, lesando a Segurança Social e o fisco.

Esta semana, em reacção às decisões do Governo no seguimento do relatório da IGF sobre o caso Alexandra Reis, Mariana Mortágua do BE veio admitir o alargamento do âmbito da CPI. Fê-lo com a mesma cara séria com que antes tinha rejeitado a proposta do PCP.

Dito isto importa sublinhar dois aspectos. Há quem se permita dizer tudo e o seu contrário sem que isso signifique ficar sujeito a um tipo de escrutínio que sobre outros recairia de forma implacável. E, sim, teremos de lidar com isso. Mas o que importa mesmo é que o mediatismo suscitado pela TAP, por mais apetites que possa despertar em determinados umbigos, não pode ser usado para facilitar a privatização da empresa, como desejam PS, PSD, IL e etc. E, de facto, sem uma crítica clara e contundente ao crime económico que representou a privatização, todo o foguetório gerado a propósito de Alexandra Reis concorre para o objectivo de vender mais uma empresa estratégica ao estrangeiro. E para isso não contem com o PCP.




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