Tomar a iniciativa em Évora pelo direito à Saúde

Patrícia Machado (Membro da Comissão Política)

Assiste-se a uma generalizada carência de profissionais de Saúde

A realidade de prestação de cuidados de saúde no distrito de Évora não é diferente de outros territórios. As carências e estrangulamentos são dados objectivos num território com 14 concelhos, profundamente envelhecido, com fracas condições de mobilidade entre concelhos e entre freguesias. Tudo isto torna necessário encontrar soluções adequadas à realidade de cada território.

Assistimos à generalizada falta de médicos, com concelhos (como Mourão) sem médicos afectos ao Centro de Saúde e apenas com recurso a tarefeiros. Concelhos como Mora, Vendas Novas, Portel, Montemor-o-Novo, onde há necessidades identificadas de recursos médicos, mas em alguns casos também de enfermeiros e assistentes técnicos e operacionais, assim como técnicos especializados nos cuidados de saúde primários.

O que conhecemos é um hospital, como tantos outros, sem a autonomia necessária para dar resposta a problemas e possibilidades, onde a cada mês se faz ginástica para corresponder às escalas necessárias na Urgência Pediátrica e na Urgência Geral. Um hospital com capacidade formativa, que precisa ser defendida e estimulada, até como potencial de fixação de muitos médicos que aqui fazem o seu internato. Um hospital que por cada cama COVID recebia três mil euros, enquanto que ao hospital privado o Estado pagava 16 mil. Um hospital, como tantos outros, que responde pela extraordinária dedicação dos seus mais diversos profissionais, que, exaustos, não valorizados nas suas carreiras e salários, dão o melhor de si na resposta pública.

Um hospital que transborda para todo o espaço disponível em contentores, ansiando pela construção do novo Hospital central público do Alentejo, que após anos na gaveta finalmente dela saiu e está em marcha, resultado da luta das populações, dos profissionais de saúde e da iniciativa decisiva do PCP para que fosse uma realidade. Marcha que importa acompanhar, como o PCP tem feito e alertado, tendo em conta os prazos de construção assim como o financiamento para a construção das acessibilidades e infraestruturas, sobre as quais o Governo do PS se tem remetido ao silêncio, apesar do compromisso assumido aquando do início da obra.


PCP sempre presente

O PCP tem tomado a iniciativa no distrito pela defesa do SNS, junto dos profissionais e das populações.

O Hospital conta com cerca de 2000 trabalhadores, 60% deles em contrato individual de trabalho, numa inteira dedicação. A eles se deve a resposta dada, mesmo com dificuldades. Profissionais como os enfermeiros, que lutaram no passado dia 5 de Janeiro pelo direito ao descanso, pela valorização das suas carreiras e salários, pela contabilização dos pontos. O PCP esteve lá e questionou o Governo.

Ou os médicos, que para se fixarem no distrito e no SNS precisam justamente de ver as suas carreiras valorizadas, assim como os seus salários e condições de trabalho. As propostas do PCP foram apresentadas ao novo Conselho de Administração numa reunião realizada no passado dia 27.

Outros profissionais, como assistentes técnicos e operacionais ou técnicos especializados, reclamam melhores condições, salários e carreiras.

O PCP realizou uma tribuna pública junto ao Hospital Espírito Santo no passado mês de Dezembro e esteve ao lado da população de Mora na acção de luta realizada a 26 de Janeiro pelo direito a médicos no concelho. A solidariedade foi acompanhada do questionamento ao Governo, assim como em Montemor e Vendas Novas.

O PCP tomou a iniciativa, no âmbito da acção «Crianças e pais com direitos», de pedir um encontro com a equipa do projecto de saúde mental perinatal, iniciado em 2022 e pioneiro no País. Um extraordinário exemplo da elevada capacidade que o SNS tem e pode ter a partir de profissionais altamente qualificados e com objectivos concretos de melhoria das condições de vida das populações. A componente mental não é diagnosticada no período perinatal, à semelhança de outros exames obrigatórios, mas atinge entre 20 a 35% das mulheres e 10% dos homens. Há estudos que revelam a importância que tem a intervenção precoce junto dos pais e em particular das mulheres durante a gravidez e nos primeiros dois anos de vida das crianças, como elemento preventivo no desenvolvimento de problemas ao longo da vida. Este projecto, ainda no início, pretende ter extensão nos cuidados de saúde primários e necessita naturalmente dos meios adequados para poder ir mais longe.

A Organização Regional de Évora do PCP irá continuar a acompanhar e a intervir com acção e proposta para defender o direito à saúde no distrito.




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