As casas são para as pessoas

Vasco Cardoso

As notícias vindas a público nos últimos dias, com destaque para a divulgação de um estudo que denuncia que os preços das casas em Portugal subiram em 2022 duas vezes mais do que a média da zona euro, vêm uma vez mais confirmar a dimensão do problema da habitação em Portugal.

O preço das rendas disparou na última década, fruto da liberalização do mercado de arrendamento imposta pelo Governo PSD/CDS; o alargamento da oferta pública de habitação praticamente estagnou neste milénio, com Portugal a ser um dos países europeus com menor parque habitacional público (realidade que não será alterada com o PRR); a construção de edifícios novos e mesmo a reabilitação foi e está a ser conduzida, sobretudo em função da procura a partir do estrangeiro e/ou por segmentos de gama alta; o alojamento local tomou conta de bairros inteiros. Acresce a explosiva situação que aí está, com a subida das taxas de juro, o agravamento das prestações ao banco, e o empobrecimento e incumprimento bancário a dispararem.

Perante aqueles que todos os dias cantam hossanas ao deus mercado, eis um revelador exemplo da aplicação da doutrina neoliberal na vida nacional. É que ao contrário do que procuram impor, as casas não são, não devem ser, uma espécie de investimento ou de aplicação financeira. As casas não são para investidores ou para fundos imobiliários. As casas devem ser para as pessoas. Parece simples e é simples.

O Governo PS nesta como noutras matérias finge a preocupação mas mantém a política de direita com que está comprometido. A criação do Ministério da Habitação – no rescaldo de mais um episódio de descredibilização do Governo – sem que se vislumbre qualquer intenção de alterar políticas, é disto exemplo.

Soluções?! Retirar a habitação da lógica de mercado para onde foi atirada. Regular preços, estabilizar contratos, travar a subida das taxas de juro e a especulação, promover um amplo programa de construção de habitação pública, limitar o Alojamento Local, condicionar a aquisição por fundos imobiliários. É difícil?! É mas sem isso este problema tenderá a agravar-se...




Mais artigos de: Opinião

Defender a democracia

O anunciado assalto às instituições federais do Brasil, no dia 8 de Janeiro, em Brasília, representou mais um acto no processo dirigido pelo ex-presidente Bolsonaro e levado a cabo pelas forças mais reacionárias brasileiras, com vista a desrespeitar a vontade popular expressa nas urnas, criando as condições que servissem...

Mil milhões de euros

Nós estamos habituados a viver num mundo onde, no que toca a dinheiro, mil euros é a nossa última verdadeira escala mensurável. O nosso salário é um pouco menos ou um pouco mais que mil euros. A nossa casa custa 100 ou 150 mil euros. Um carro custa 9 ou 12 mil euros. Há quem viva noutro mundo, o do milhão de euros, onde...

Licença para matar

A repercussão internacional que teve o assassinato de George Floyd, em 2020, testemunha o poder das redes sociais e, simultaneamente, a sua efemeridade. A indignação gerada pelas imagens da bestialidade policial deram a volta ao mundo, alimentaram genuínas indignações, mobilizaram protestos e obrigaram instituições e...

Revisores

É natural que um processo de revisão constitucional suscitado pelo Chega provoque repulsa em todos quantos vêem na Constituição da República Portuguesa um garante de direitos, de liberdades e da própria democracia. E não é para menos, pois a extrema-direita nunca escondeu ao que vinha: quer refundaro regime e enterrar a...

«Praças de indignação e luta!»

Ao longo do ano de 2022 foram muitos e de diversa ordem e dimensão os momentos em que a juventude, os trabalhadores e a população em geral fizeram sentir o seu protesto. O novo ano que agora iniciamos eleva a necessidade da continuidade dessa mesma luta, assumindo até expressões de maior...