Mísero contentamento
Há quem se contente com pouco e proclame a felicidade que o inunde por dá cá aquela palha. Não em tom de rábula, como Herman e Breyner imortalizaram por via do senhor Feliz e do senhor Contente, mas na versão de propaganda europeísta que levou Lagarde a anunciar essa boa nova de ter a Croácia no que designa de «família feliz do euro».
Sempre se poderá dizer que cada um se mete onde se quer meter ainda que como se sabe, por experiência própria, que é a imensidão dos que se vêem metidos por decisão de terceiros que arcam com as consequências. Passado o foguetório que os poderes dominantes e os arautos do grande capital promovem, a anunciada felicidade não tardará a esfumar-se. No caso presente, problema dos croatas.
Por cá conhece-se bem o que representou a perda de soberania monetária, a exposição indefesa aos humores do BCE e à especulação dos ditos «mercados», as consequências na vida de cada um. Essa realidade nem sempre perceptível e apreendida, mas que contrasta com a enxurrada de loas com que nos inundaram. Seja os efeitos milagrosos do euro de se constituir como capa protectora que nos poria a salvo de todas e quaisquer «crises» vindouras ou as capacidades atléticas que nele vislumbravam capaz de nos colocar no «pelotão da frente».
É o que se vê. Nem a versão mais bíblica de Guterres «serás euro e sobre ti construirei a Europa» disfarça o que a moeda única significou de cerceamento do caminho de desenvolvimento soberano a que o País tem direito. E que conduz a que muitos dos que apoiam a alienação da nossa soberania se contentem agora com padrões de exigência tal que os leve a invocar, em termos de indicadores, comparações com países como a Roménia.