Sim, os lucros da TAP!

Vasco Cardoso

O dia acordou (2 Novembro) com uma notícia «fora da caixa»: a TAP tinha acabado de anunciar um lucro de 111 milhões de euros no terceiro trimestre de 2022. Sim, a TAP, a mesma empresa que dia sim dia sim é apresentada como o principal sorvedouro de recursos nacionais, um poço onde o «dinheiro dos contribuintes» é enterrado. Uma empresa, cujo desaparecimento, em virtude dos impactos da pandemia, teria «poupado» milhares e milhões de euros ao País e cujos serviços poderiam estar hoje a ser realizados por uma qualquer multinacional, porventura com melhor serviço e preços mais acessíveis.

De facto, esta é uma notícia que não encaixa na campanha negra que ao longo dos últimos anos tem vindo a ser construída para convencer o País de que precisa de se desfazer da sua companhia aérea de bandeira, da sua principal empresa exportadora. Uma campanha que se expressa de forma avassaladora dentro do comentário político, que tem uma programação própria, com a libertação de notícias que, de forma cirúrgica, vão consolidando a ideia de uma empresa que é necessário abater. Uma campanha que serve os que há muito desejariam vender a TAP, como o PSD, mas serve também os que, não tendo tido condições para a vender entre 2015 e 2021, querem agora recuperar tempo perdido, como o PS, claro está.

Os lucros na TAP não são contudo uma excepção. São uma realidade, particularmente na actividade operacional que tem sido sistematicamente ocultada – em seis dos 10 anos anteriores à paragem que a pandemia impôs, a TAP teve resultados operacionais positivos. Aliás, os lucros e o potencial económico da TAP são uma das principais razões que estão por detrás do interesse das multinacionais, que não estarão a pensar em perder dinheiro. Na verdade, o grande capital quer a TAP, quer o negócio da TAP – as suas rotas, o seu mercado, as suas receitas – porque, ao contrário do que nos procuram fazer acreditar, o potencial desta empresa é enorme.

É também isso que pensa a União Europeia, que procura modelar o sector da aviação civil aos interesses das grandes multinacionais, interesses que são incompatíveis com a existência de uma TAP pública ao serviço do povo e do País pela qual continuaremos a lutar.




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