Dizer não aos EUA

Luís Carapinha

Os EUA não poupam sequer os seus aliados

A Casa Branca anunciou um novo pacote de restrições visando a indústria de semicondutores (chips) da China. Estas medidas discriminatórias foram referidas na imprensa internacional como susceptíveis de representar a maior alteração da política de exportação de tecnologia desde a década de 90 e as mais agressivas adoptadas até à data por Biden, na peugada da guerra comercial e tecnológica iniciada pela Administração Trump contra a China.

Embora observadores lúcidos alertem para os efeitos contraproducentes que terá para os próprios interesses dos EUA, o Financial Times adiantava dia 9 que Washington irá submeter toda a indústria de chips chinesa à «dor profunda» testada contra a companhia Huawei, alvo de pesadas sanções desde 2019. As medidas em causa, ditas de controlo de exportações, têm imanentes prerrogativas extraterritoriais que perseguem as empresas (e países) que ousem prosseguir relações com a China nos domínios ilegalmente regulamentados pelo imperialismo norte-americano. Um editorial do Global Times de Pequim qualificou-as como «a mais bárbara violação das regras económicas e comerciais internacionais, e a maior (...) destruição da cadeia industrial global por parte do governo de um país» (9.10.2022).

De novo se comprova que a guerra tecnológica, em particular na esfera dos componentes vitais empregues nas tecnologias mais avançadas como os chips, está no âmago não só da guerra económica contra a China, mas também de toda a estratégia dos Estados Unidos para conter e instabilizar o seu desenvolvimento. O desafiante agravamento por parte dos EUA da questão sensível de Taiwan entra em força nesta linha, a par das acções febris para desestabilizar as fronteiras da China, passando pela formação de uma panóplia de organizações de cariz militar e económico e a assimilação da vocação «indo-pacífica» da NATO. Nesta cruzada estreiam-se o Quad, o AUKUS, o mais virtual do que consistente Quadro Económico do Indo-Pacífico, lançado há meses em Tóquio, e a menos conhecida Aliança Chip 4 com que os EUA tentam subordinar Coreia do Sul, Japão e Taiwan às suas prioridades na matéria.

Não é certamente uma coincidência que o anúncio da escalada na esfera tecnológica anti-Chinatenha lugar nas vésperas do XX Congresso do PCC. Notoriamente, em ano de reunião magna dos comunistas chineses, os EUA multiplicam pressões em todas as frentes, tentando abalar e condicionar a sua realização e as decisões de política interna e externa que se aguardam do partido que desde o triunfo da revolução chinesa, em 1949, governa o país.

O agravamento qualitativo do quadro internacional não é abstraível da linha de confrontação dos EUA face ao grande adversário sistémico. Na lógica insana para perpetuar uma hegemonia condenada, o poder do grande capital não olha a meios. A acção retrógada dos EUA investe contra o progresso e os princípios e necessidade de maior cooperação internacional. A fúria de Washington não poupa sequer aliados, independentemente da subserviência da UE e do famigerado G7, como o mostra a actual guerra na Ucrânia. Com uma nova recessão à porta, para os povos do mundo torna-se aindamais pertinente dizer não aos EUA e à política incendiária do imperialismo quepõe em risco a paz mundial.




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