Na SATA repete-se um filme já visto
O transporte aéreo do Continente para algumas ilhas dos Açores (Terceira, São Miguel) foi liberalizado em 2015. Eram, de per si, as ilhas com maior tráfego com o Continente, mas para reforçar a solvência dessas rotas o modelo incluía o transporte gratuito (reencaminhamento) para uma das outras Ilhas dos Açores na companhia aérea pública SATA. Trocando a coisa por miúdos: a malta comprava um bilhete na Ryanair ou na Easyjet para São Miguel, e a SATA levava-nos e trazia-nos das Flores ou do Corvo. Foram 698 mil reencaminhamentos gratuitos até o final de 2020. Como todos os relatórios do Tribunal de Contas indicam, a SATA Air Açores nunca foi devida e atempadamente ressarcida dos custos que suportou.
As rotas directas do Continente para as Ilhas do Faial, Pico e Santa Maria continuaram a realizar-se com obrigações de serviço público, tendo-se realizado um concurso ganho pela SATA Internacional. O Estado português comprometeu-se a apoiar as rotas com 16 milhões de euros por ano, tendo-se limitado a transferir 3,75 milhões até 2020. Essa falta de apoio provocou um rombo nas contas da SATA Internacional de várias dezenas de milhões de euros. Apoios que nunca faltaram nas rotas similares quando executadas por empresas privadas (Bragança e Porto Santo).
A SATA Internacional assume um conjunto de rotas para a Europa que são muito deficitárias. É reconhecido pelas próprias Auditorias realizadas, que essas rotas criaram uma riqueza na região que é o dobro do custo internalizado nas contas da companhia. Mas a SATA Internacional nunca foi compensada por esse investimento ao serviço da Região.
Depois de colocar as contas da SATA no vermelho, como os exemplos aqui dados ilustram, aproveita-se a crise provocada pela pandemia para uma reestruturação, imposta por Bruxelas mas proposta pelo Governo Regional e pelo Governo da República. A assistência em escala, sempre lucrativa, é para vender a uma multinacional. E a SATA Internacional para privatizar a outra. E todo o passivo artificialmente criado é para ser saneado antes da privatização.
Um crime. Mais um.