Argélia: 60 anos de independência
A Argélia festejou a 5 de Julho o 60.º aniversário da independência, conquistada após oito anos (1954-1962) de luta armada contra o colonialismo francês.
Perante delegações de países amigos, a data foi assinalada em Argel com um desfile militar e um espectáculo evocando a longa história do povo argelino.
Justifica-se o relevo dado à comemoração. O corajoso combate emancipador do povo argelino, que pôs fim a mais de um século de dominação estrangeira, foi exemplo para os movimentos de libertação nacional de África. E, a partir de 1962, a Argélia independente, dirigida pela Frente de Libertação Nacional (FLN), tornou-se porto de abrigo seguro e apoio incontornável para as lutas independentistas que se travaram no continente.
Nos casos de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, os movimentos que dirigiram essas lutas – o MPLA, o PAIGC e a FRELIMO, forçados a pegar em armas perante a recusa obstinada da ditadura fascista de Salazar em resolver pacificamente, através de negociações, a questão colonial – contaram sempre com a ajuda solidária da FLN e do Estado argelino. Ajuda política e diplomática, no quadro africano e no seio do Movimento dos Não Alinhados, ajuda material e militar, incluindo a formação de combatentes.
Hoje, ultrapassando dificuldades, com avanços e recuos ao longo destas seis décadas, mas com um balanço amplamente positivo, a Argélia continua a ser um país respeitado, em África e no mundo. Apoia a causa da Palestina e contribui para a unidade das forças patrióticas palestinianas. Dinamiza relações cordiais com a Síria, que enfrenta uma guerra impulsionada desde há mais de uma década pelo imperialismo. Auxilia a Frente Polisário, representante legítima do povo saarauí, na sua justa luta pelo direito à autodeterminação e independência do Saara Ocidental. Mantém fraterna cooperação com Cuba, estabelecida ainda durante a luta armada de libertação do povo argelino. E, no plano internacional, rejeita ingerências e chantagens, defende intransigentemente a sua soberania.
Foco de tensão, cada vez maior, são os laços – no plano diplomático inexistentes – entre a Argélia e o seu vizinho ocidental, Marrocos, que ocupou ilegitimamente o Saara Ocidental quando a Espanha abandonou o território, em 1975. Laços que foram cortados quando, no ano passado, Marrocos estabeleceu relações com Israel e, em troca, os EUA reconheceram a soberania marroquina sobre o Saara Ocidental. O recente massacre de quatro dezenas de migrantes em Melilla, quando tentavam atravessar a fronteira entre Marrocos e o enclave espanhol, foi motivo para mais trocas de acusações entre Argel e Rabat.
Ameaçador para a Argélia foi o exercício militar internacional «Africa Lion», organizado pelos EUA e Marrocos e que decorreu em Junho, sobretudo em território marroquino. Sob a chefia do Africom (Comando Africano dos EUA), participaram nas manobras 7500 soldados de uma dezena de países de África, Europa e América. E estiveram presentes observadores militares de 30 «parceiros», incluindo da NATO e, pela primeira vez, de Israel.
Tudo em linha com as decisões da recente Cimeira da NATO, no sentido do seu reforço do «flanco Sul» – a Europa mediterrânica e a África do Norte –, e uma ameaça real para a Argélia independente e para os povos de toda a região.