PCP em Moçambique nas comemorações dos 60 anos da FRELIMO

Uma delegação do PCP deslocou-se a Maputo, capital de Moçambique, entre 24 e 29 de Junho para participar nas comemorações dos 60 anos da fundação da FRELIMO. O Avante! conversou com Ângelo Alves, membro da Comissão Política do Comité Central e da Secção Internacional do PCP, que representou o Partido nestas comemorações.

A FRELIMO foi criada a 25 de Junho de 1962

Deslocaste-te a Moçambique para representares o PCP nas comemorações da fundação da FRELIMO. Como decorreu esta visita?

Esta deslocação realizou-se no quadro das relações de amizade e cooperação entre o PCP e a FRELIMO e na sequência de um convite que nos foi dirigido pela FRELIMO para participarmos nas comemorações dos 60 anos da sua fundação. A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) foi criada a 25 de Junho de 1962. Foi também a 25 de Junho, desta feita em 1975, que o Presidente Samora Machel proclamou a independência total e completa de Moçambique, que este ano assinala 47 anos.

Trata-se de duas datas de grande importância e portanto foi com alegria e honra que estivemos presentes nestas comemorações. Naturalmente que a visita permitiu ainda desenvolver contactos com a direcção do Partido FRELIMO, com outras delegações internacionais presentes em Maputo, e ainda aprofundar o conhecimento da realidade económica, social e política deste país.

 

Em que consistiram as comemorações?

A nossa delegação participou nas iniciativas em Maputo, capital de Moçambique. Contudo fomos informados que um pouco por todo o país se realizaram muitas cerimónias e iniciativas. Falamos de uma data com um simbolismo e importância enormes, em que é visível o orgulho do povo moçambicano na luta que levou à conquista da independência e um real sentimento de unidade em defesa da soberania nacional, que nos militantes da FRELIMO é ainda mais expressivo.

Um dos momentos mais marcantes foi a cerimónia que decorreu na manhã do dia 25 de Junho na Praça dos Heróis Moçambicanos, onde se situa o monumento aos Heróis que lutaram pela independência de Moçambique e onde estão os restos mortais de Eduardo Mondlane, o primeiro Presidente da FRELIMO, e de Samora Machel, o primeiro Presidente da República Popular de Moçambique.

Esse foi o palco de várias cerimónias, nomeadamente a deposição de coroas de flores no monumento e a condecoração de várias personalidades, sobretudo ex-combatentes da luta de libertação nacional. Estas cerimónias foram acompanhadas por uma multidão de populares, a esmagadora maioria dos quais com os símbolos da FRELIMO, que escutaram atentamente as palavras do Presidente da República e Presidente da FRELIMO, Filipe Nyusi.

Após este momento as delegações internacionais participaram num grande almoço de confraternização comemorativo dos 60 anos da fundação da FRELIMO, onde o PCP foi convidado a usar da palavra. Ali realçámos a luta comum contra o colonialismo e o fascismo que une o PCP e a FRELIMO, e sublinhamos a solidariedade do PCP para com os grandes desafios que o povo moçambicano tem pela frente na defesa da independência e soberania do seu país bem como no seu desenvolvimento económico e social. O almoço terminou com uma intervenção do Presidente Filipe Nyusi, que reafirmou a vontade da FRELIMO em estreitar os laços de amizade com os partidos e países ali representados.

Por último as comemorações incluíram ainda um concerto comemorativo da fundação da FRELIMO e da independência do País, realizado à noite, onde participaram milhares de pessoas.

 

Referiste que Filipe Nyusi se referiu à vontade de estreitar laços com os partidos e países representados. Que partidos estiveram representados em Maputo?

Como é natural, o grosso dos partidos representados eram africanos, vários com delegações de alto nível, incluindo altos representantes de Estado, nomeadamente de Angola, Botswana, Guiné-Bissau, Sara Ocidental, São Tomé e Príncipe, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué. Estiveram ainda presentes representações diplomáticas de vários países, nomeadamente a República Popular da China e a Federação Russa, entre outros convidados. O PCP acabou por ser o único partido político português ali representado, facto que não está desligado dos laços históricos que unem os povos de Portugal e Moçambique e das relações de amizade e cooperação que unem o PCP e a FRELIMO e que remontam à ao período da sua criação.

 

Com certeza que tiveste oportunidade de trocar impressões com vários partidos e desde logo com a FRELIMO…

Sim, o nosso Partido realizou vários contactos, sobretudo com partidos africanos e, claro, com a FRELIMO. Além de vários contactos informais com vários dirigentes da FRELIMO e com várias delegações, realizámos uma reunião com o Secretário-Geral da FRELIMO, Roque Silva, e o Secretário para as Relações Internacionais, Chaqil Aboobacar, onde traçámos linhas para o aprofundamento das relações entre o PCP e a FRELIMO.

 

No momento em que a FRELIMO comemora 60 anos da sua fundação que impressão trazes da realidade moçambicana?

A primeira é a de um respeito enorme por aquele Partido que há 60 anos era fundado no exílio, na Tanzânia, e que uniu vários movimentos de libertação que já se desenvolviam, e levou a cabo uma luta heróica e vitoriosa contra o colonialismo do regime fascista português. A segunda é que, como referem os próprios dirigentes da FRELIMO, os desafios para completar totalmente a libertação do povo moçambicano são ainda muitos, nomeadamente no que toca ao desenvolvimento social, económico e das ferramentas socioeconómicas, incluindo no tecido produtivo, que assegurem a soberania do país.

Moçambique está a fazer um esforço muito grande para se desenvolver de forma soberana, para resolver vários problemas e para usar os enormes recursos que detém para melhorar as condições de vida do seu povo, isso é notório e dá-nos confiança. A terceira impressão é que as difíceis condições em que ainda vive grande parte do povo moçambicano são inseparáveis de séculos de domínio colonial e de décadas de guerra civil que visou impedir a afirmação soberana de Moçambique e o seu desenvolvimento.

Aliás, das conversas tidas, ficou para mim mais evidente que acontecimentos como o terrorismo na província de Cabo Delgado não são dissociáveis das tentativas de várias potências imperialistas de impedir que Moçambique tenha soberania sobre os seus recursos naturais.




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