Militares continuam a reprimir no Sudão

Carlos Lopes Pereira

As autoridades militares em Cartum anunciaram a suspensão do estado de emergência no Sudão mas não cessaram a repressão violenta contra manifestantes que exigem o retorno dos soldados aos quartéis e a instalação de um governo civil democrático.

O presidente do Conselho Soberano de Transição, general Abdel Fatah al-Burhan, decretou a 29 de Maio o fim do estado de excepção com o objectivo de criar um clima adequado ao diálogo para uma solução política para a crise que atinge o país. Segundo a imprensa sudanesa, os militares golpistas ordenaram a libertação de cidadãos presos no quadro do estado de emergência.

Em 25 de Outubro de 2021, os generais levaram a cabo um golpe de Estado contra o governo civil de transição e, desde então, grandes manifestações populares têm pedido nas ruas o afastamento dos militares e a instauração de um poder democrático. A repressão policial tem sido brutal, foram mortas dezenas de pessoas e centenas de outras ficaram feridas, registou-se um número indeterminado de presos políticos.

Agora, a coligação de organizações civis sudanesas Forças para a Liberdade e a Mudança, que se opõe aos militares golpistas, exigiu aos generais o fim das acções repressivas contra os manifestantes, após o levantamento do estado de emergência nacional. A exigência foi feita pouco depois da polícia ter reprimido com granadas de gás lacrimogénio e balas de borracha uma mobilização popular na cidade de Omdurman, perto da capital. Na véspera do anúncio do fim do estado de emergência, morreram mais dois jovens, em Cartum, vítimas da violência policial.

Foi reivindicada também a libertação de todos os presos políticos – incluindo os líderes dos Comités de Resistência, que se têm destacado na resistência ao golpe militar –, com a advertência de que as autoridades devem deixar de falsificar acusações penais contra os detidos com o propósito de dificultar a sua libertação.

Prosseguem, entretanto, as iniciativas conjuntas das Nações Unidas, União Africana e Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (grupo regional de oito países da África Oriental) – o chamado «mecanismo tripartido» – para, através de conversações entre partidos políticos e junta militar, construir uma solução para a crise no Sudão. Alguns grupos importantes, como os Comités de Resistência e as Forças para a Liberdade e a Mudança, contudo, rejeitam dialogar com os generais golpistas, para não lhes dar legitimidade, e insistem na constituição prioritária de um governo civil de transição.

Países ocidentais, com os Estados Unidos da América à cabeça, têm acenado com o risco de o Sudão – mantendo-se a instabilidade e sem um governo funcional – «perder» prometidas «ajudas» do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional.

Agravando a situação, peritos internacionais indicam que chuvas fora de tempo, inundações, pragas e doenças ameaçam o ano agrícola, num momento em que os preços dos alimentos continuam a subir. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA) calculam que, no Sudão, o número de pessoas que sofrem de insegurança alimentar aguda aumente dos 9,8 milhões registados no ano passado para 18 milhões em Setembro de 2022.




Mais artigos de: Internacional

EUA enviam mais armas para bases ilegais na Síria

Tropas norte-americanas reforçam com armas e munições as bases militares ilegais dos EUA na Síria, ao mesmo tempo que roubam petróleo, gás e trigo do país árabe. Está, entretanto, prevista para breve, no Cazaquistão, mais uma ronda de negociações para a paz, patrocinadas por Rússia, Irão e Turquia.

América Latina e Caraíbas rejeitam pretensões de dominação imperialista

Os chefes de Estado e de Governo da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América-Tratado de Comércio dos Povos (ALBA-TCP) rejeitaram em Havana as pretensões de dominação imperialista sobre os povos da América Latina e das Caraíbas para manter dividida a região em função de interesses hegemónicos.

Gustavo Petro apela ao voto pela mudança na Colômbia

O candidato do Pacto Histórico, Gustavo Petro, venceu a primeira ronda da eleição presidencial na Colômbia, alcançando 40 por cento dos votos. Terá agora de disputar a segunda volta, prevista para o dia 19, contra Rodolfo Hernández, que obteve 28,15%.

China e Rússia opõem-se na ONU a mais sanções contra Pyongyang

A China e a Rússia opuseram-se na ONU à aplicação de sanções contra a República Popular Democrática da Coreia (RPDC), quando os países ocidentais se esforçam por estabelecer mais medidas desse tipo. No Conselho de Segurança das Nações Unidas, Pequim e Moscovo vetaram, a 27 de Maio, um projecto de resolução apresentado...