20 anos transcorridos: que futuro para lá do euro?

«A entrada no euro, a que o PCP se opôs, prejudicou imenso o País. A permanência no euro continua a prejudicá-lo muito(...). O desenvolvimento do País necessita, como solução estrutural, da recuperação da sua soberania monetária».

Muitas ilusões ruíram nestas duas décadas

A conclusão é de Jerónimo de Sousa no encerramento do debate «20 anos de circulação do euro: passado, presente e futuro», promovido anteontem pelo PCP no ISCTE. Ao longo de todo o dia, em duas sessões dirigidas, respectivamente, por Vasco Cardoso e João Ferreira, ambos da Comissão Política do Comité Central, o tema foi abordado sob diversos ângulos por 17 oradores, além das intervenções de abertura, a cargo de Sandra Pereira, deputada do PCP no Parlamento Europeu, e de encerramento, proferida pelo Secretário-geral do PCP.

Da parte da manhã intervieram Sérgio Ribeiro, Pedro Carvalho, Eugénio Rosa, Graciete Cruz e Sofia Silva. Os temas abordados foram desde a campanha «Não à Moeda Única», aos impactos orçamentais, nas políticas económicas, sociais e laborais, àquilo que o euro representa enquanto projecto de classe por parte do grande capital na Europa.

No período matinal, antes de uma primeiro debate, usaram ainda da palavra Ludvik Sulda, do Partido Comunista da Boémia e Morávia, Thomas Pringle, do I4C da Irlanda, Denis Durand, do Partido Comunista Francês, e Vera Polycarpou, do AKEL do Chipre.

Já da parte da tarde, fizeram comunicações Vasco Cardoso , João Ferreira do Amaral, Carlos Carvalhas, João Rodrigue, Paulo Coimbra e Ricardo Cabral. Nuno Teles fez a última intervenção vespertina.

A avaliação sobre as evoluções no sistema monetário internacional, o impacto das sucessivas crises e o desenvolvimento da crise estrutural do capitalismo, as possibilidades e opções que se colocam quanto ao futuro marcaram o debate da tarde.

Na próxima edição do Avante! daremos nota mais desenvolvida do conteúdo das intervenções e debate.

 

Consequências e soluções

No início dos trabalhos, Sandra Pereira começou por sublinhar a actualidade do debate, pois «passados 30 anos do Tratado de Maastricht e 20 anos da entrada em circulação da moeda única, estão reunidas as condições para tirar conclusões, independentes das conjunturas e dos governos, sobre o Euro e o seu impacto para os países, os trabalhadores e os povos.»

Uma primeira e central, é que a moeda única foi o «projecto do grande patronato europeu» de «um único e vasto mercado (...) que lhes permitisse beneficiar da mão-de-obra barata», «não obstaculizasse os fluxos de capital» e «alargasse o campo de acumulação capitalista», o qual «deixou os países à mercê dos mercados financeiros e das agências de rating» e amarrados a «uma moeda única que (...) impôs o ónus do ajustamento económico sobre o investimento público, os trabalhadores e seus salários, as micro, pequenas e médias empresas e os direitos sociais».

Sandra Pereira acusou ainda a União Económica e Monetária de ter agravado «os problemas estruturais da União Europeia: estagnação económica, a contenção do investimento, a desindustrialização da periferia, a retracção da procura, o crescimento insuportável da dívida pública e privada, a instabilidade do sistema financeiro, a profunda e longa crise social», e, nesse sentido, considerou que «o euro não é uma inevitabilidade.»

Na mesma esteira, Jerónimo de Sousa encerrou o debate escalpelizando vários aspectos da «cavalgada» para o euro, de entre os quais o facto de «os representantes, sociais e políticos, do grande capital, cujos interesses de classe levaram a disfarçar a adesão à moeda única de ”grande desígnio nacional”», tudo terem feito para que o povo português fosse arredado da discussão e decisão. «É sempre assim, quando a democracia colide com os interesses do capital.»

«Muitas ilusões ruíram nestas duas décadas», prosseguiu Jerónimo de Sousa, que abordando com detalhe todas as dimensões lesivas da adesão de Portugal ao euro, deixou claro que «na concepção do PCP, a necessária libertação do euro é um processo democrático, responsável, cuidadosamente preparado, que deve contar com a participação e um apoio maioritário da população, protegendo os seus rendimentos, poupanças e níveis de vida».

«A moeda única, ainda que com irregularidades de ritmo, ilustra bem essa caixa de ferro com que se querem enquadrar todos os povos e países, independentemente das suas realidades, das suas necessidades e das suas potencialidades, acrescentou o Secretário-geral do PCP, para quem «a entrada no Euro, a que o PCP se opôs, prejudicou imenso o País. A permanência continua a prejudicá-lo muito(...)», pelo que «o desenvolvimento do País necessita, como solução estrutural, da recuperação da sua soberania monetária».

 





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