Um dia no Texas

António Santos

Um jovem, de dezoito anos apenas e cujo nome é irrelevante, entrou numa escola primária com duas metralhadoras e matou 20 crianças e um professor. Antes, tinha dado um tiro na avó. Depois, foi morto pela polícia. A guerra civil americana nunca terminou verdadeiramente.

Tradicionalmente, os EUA lidam com todos os seus problemas internos exportando-os. Isto tanto vale para a inflação (cujo descontrolo na outra margem do lago é muito anterior à guerra na Europa) como para a violência em geral e para os tiroteios em particular. Contagiar a concorrência — ou o inimigo — permite por vezes a diluição o problema, mas garante sempre a diminuição da vantagem do oponente.

O que aconteceu no Texas não foi um caso isolado. Só desde o início do ano, são já 28 os tiroteios em massa dentro de escolas nos EUA. Todas as semanas há um. No Texas, onde nem sequer existe qualquer registo das armas que se vendem e se compram, este é já o quarto.

Os tiroteios em massa têm causas profundas que vão, contudo, muito para além da facilidade com que se adquire uma arma: reflectem a violência enxertada na cultura de um povo por dois séculos de guerras imperiais; traduzem as profundas divisões e desigualdades entre brancos e negros; ricos e pobres; índios e colonos; urbanos e rurais; democratas e republicanos; confederados e nortenhos; religiosos e ateus; imigrantes recentes e imigrantes antigos.

Mas principalmente, a epidemia de tiroteios que persegue os EUA há tantas décadas é sintomática de uma sociedade doente, em fim de linha civilizacional. Não sobrem portanto dúvidas de que, incapazes de controlá-la, alguns governantes estado-unidenses não se importariam de vê-la contagiar o resto do mundo. A receita é, de resto, pública e pode confeccionar-se de variadíssimas formas: vendendo mais armas; acicatando o belicismo; promovendo a cultura da violência, do medo e do ódio; deixando caixas abertas cheias de metralhadoras no meio das avenidas; convencendo-nos sorrateiramente de que falar não serve de nada porque é aos tiros que se resolve tudo. É assim que se acorda um dia no Texas.




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