Mais guerra?

Jorge Cadima

EUA querem empurrar a China para a guerra sobre Taiwan

É evidente a vontade dos EUA/UE em prolongar o mais possível a guerra na Ucrânia. Mas o belicismo está também patente no outro extremo do planeta: os EUA repetem na ilha Formosa (Taiwan) o guião da Ucrânia.

Contrariando as palavras de respeito pela integridade territorial da China, proferidas durante a video-cimeira entre os presidentes Xi e Biden em Março, a presidente da Câmara de Representantes e terceira figura na hierarquia do poder nos EUA, Nancy Pelosi, anunciou uma visita a Taiwan, entretanto adiada, alegadamente por COVID. Uma semana mais tarde, seis congressistas dos EUA «das comissões militar, dos serviços secretos, negócios estrangeiros, justiça e finança» (globaltimes.cn, GT, 15.4.22) visitaram a ilha chinesa, incluindo o falcão de todas as guerras Lindsey Graham. Já em Março, houve uma visita de altos funcionários militares e dos serviços secretos dos EUA.

Multiplicam-se as vendas de armas à ilha, que nem é oficialmente reconhecido como um país pelos próprios EUA: 750 milhões de dólares no ano passado (thedefensepost.com, 6.8.21); 100 milhões em Fevereiro (CNN, 8.2.22); 95 milhões em Abril (Al Jazeera, 6.4.22). Enquanto ardem as chamas da guerra na Ucrânia, seria lógico não instigar novos focos de conflito. Assim seria se o imperialismo em decadência não quisesse a guerra. Mas quer. E tal como empurrou a Rússia para a guerra da Ucrânia, está a tentar empurrar a China para uma guerra sobre Taiwan.

O jornal Global Times afirma que «a natureza enganadora e a duplicidade da política dos EUA face à China fica plenamente exposta» (GT, 9.4.22). O MNE chinês exigiu que Pelosi não apenas adie, mas cancele a visita (GT, 9.4.22). A resposta chinesa também tomou a forma de manobras militares, que o GT descreve (15.4.22) assim: «o Exército de Libertação do Povo está pronto para o combate e tomará todas as medidas necessárias para esmagar resolutamente quaisquer tentativas de ingerência por parte de forças externas e iniciativas secessionistas […] de forma a preservar a soberania nacional e integridade territorial». Entretanto, os EUA empenham-se também em desestabilizar o Paquistão e ameaçar a Índia, «culpados» de não terem alinhado com a estratégia de sanções e belicismo contra a Rússia (GT, 12.4.22).

O militarismo é sempre acompanhado pela mentira e autoritarismo. O Público, jornal do grande capital que defendeu todas as guerras do imperialismo incluindo a invasão do Iraque, indigna-se com quem levanta suspeitas sobre a propaganda de guerra. Suspeitas expressas pelo marine e ex-inspector de desarmamento dos EUA e ONU, Scott Ritter, que testemunhou directamente as mentiras do Iraque. Ritter afirma-se convencido que o massacre de Bucha foi uma provocação, em que «a Polícia Nacional Ucraniana assassinou civis ucranianos», atribuindo depois «a culpa aos russos» (consortiumnews.com, 13.4.22). Por argumentar essa posição, foi suspenso do Twitter.

Quem pensa que a censura se deve à Ucrânia lembre-se de Julian Assange. Preso no Reino Unido, muito antes da Ucrânia, por divulgar as mentiras e crimes das guerras imperialistas. A guerra e a mentira estão no ADN do sistema. Que hoje ameaça conduzir a Humanidade para a catástrofe.

 



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