Rui Moreira não ficará na História

Ângelo Alves

O Conselho Português para a Paz e Cooperação – CPPC – é uma organização não governamental portuguesa que «tem como fim contribuir, através da mobilização da opinião pública, para a defesa da Paz, da segurança e da cooperação internacionais, e para a amizade e solidariedade entre os povos, de harmonia com o espírito da Carta das Nações Unidas, suas finalidades e objectivos». Mensageiro da Paz da Organização das Nações Unidas, o CPPC é filiado no Conselho Mundial da Paz, assumindo altas responsabilidades nos órgãos dessa estrutura internacional. Incorpora na sua direcção e Presidência inúmeras personalidades de diversas sensibilidades políticas e ideológicas e de várias áreas sociais.

Apesar da sua constituição formal datar de 1976, o CPPC é herdeiro e continuador, em liberdade, do movimento que em pleno fascismo conjugou de forma notável a luta contra a ditadura fascista com a luta pela paz. As suas raízes remontam a 1945 e ao movimento de comemoração da Vitória contra o nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial e que, no início dos anos 50, resultaria na criação da Comissão Nacional para a Defesa da Paz. Uma das suas primeiras acções foi a recolha de 100 mil assinaturas em Portugal para o Apelo de Estocolmo, uma petição internacional pelo fim das armas nucleares dinamizado pelo Conselho Mundial da Paz e que recolheu 300 milhões de assinaturas em todo o Mundo. Seguiram-se em 1952 as lutas contra o Pacto do Atlântico (NATO) e pela assinatura de um Pacto de Paz aberto a todos os países do Mundo, violentamente reprimidas pela ditadura fascista.

Ruy Luís Gomes, Manuel Valadares, Maria Lamas, Azevedo Gomes, Virgínia Moura, José Morgado e Albertino de Macedo são algumas das personalidades que protagonizaram o nascimento do Movimento da Paz em Portugal. Vários deles foram presos, acusados de «ideias dissolventes» e de «traição à pátria». José Dias Coelho foi expulso da ESBAL juntamente com 80 outros estudantes dessa escola e seria mais tarde assassinado pela PIDE.

Foi este movimento, esta História e este papel que Rui Moreira tentou calar no Porto, apelidando o CPPC de «organização comunista e de apoio ao inimigo invasor». Não conseguiu. Ganhou a liberdade e a Paz. A História da luta pela paz continuará e Rui Moreira não fará parte dela.

 



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