Oportunismo de guerra

O aproveitamento da intensificação da guerra na Ucrânia por parte do grande capital faz-se sentir em todos os domínios. Da intoxicação ideológica à especulação dos preços, da corrida aos armamentos à imposição da ditadura do pensamento único, tudo serve, tal como como fez durante a epidemia, para tirar partido das trágicas consequências de um caminho que o imperialismo criou e que quer levar tão longe quanto lhe seja possível.

Há quem vá disfarçando os sinistros interesses que estão por detrás da escalada de confrontação que continua em curso, mas há também quem não resista a expor com clareza o que lhe vai na alma. José Crespo Carvalho, Professor Catedrático na Nova School of Business and Economics (actual designação da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa) e colunista do Observador é uma dessas criaturas. Em texto publicado no referido jornal, JCC do alto da sua pretensa visão académica, vem-nos dizer que as dezenas de milhares de refugiados ucranianos que o nosso País poderá vir a acolher nos próximos tempos poderão «mudar o perfil do trabalho», impondo um «mindset diferente daqueles a que estamos habituados». Como diz JCC, «que ninguém espere que sejam trabalhadores das nove às cinco e que venham reclamar o que cá reclamamos».

O desejo de JCC é que os milhões de refugiados que desaguarão em Portugal e noutros países da Europa contribuam para uma degradação ainda maior dos salários e dos direitos de todos os trabalhadores, alargando a jornada de trabalho e condicionando a sua luta reivindicativa.

Para lá do que estas afirmações revelam de cínico desprezo pela situação com que os refugiados de guerra (ucranianos, mas não só) se confrontam, reduzindo-os a mera força de trabalho, o que fica claro é o chocante oportunismo desta gente, que utiliza a guerra e os seus impactos para aprofundar a exploração.

Como temos dito, o caminho da paz exige o cessar fogo e uma solução política e negociada para o conflito. Um caminho que se opõe ao da guerra, ao do oportunismo e da exploração nos quais o imperialismo e o grande capital investem.




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