Irracionalidades

Anabela Fino

A esta hora, se tudo correu como estava previsto, o grupo de duas dezenas de pessoas liderado pelo neonazi Mário Machado já estará na Ucrânia. O objectivo declarado da deslocação é prestar ajuda humanitária e, se necessário, combater ao lado das tropas ucranianas, como consta do pedido que tocou as cordas sensíveis do coração de uma juíza do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa ao ponto de a levar a alterar as medidas de coação impostas a Machado.

O delinquente, já julgado e condenado a mais de 10 anos de prisão por diversos crimes de ódio, incluindo ofensas à integridade física que resultaram no homicídio de Alcindo Monteiro, em 1995, está actualmente obrigado a apresentar-se quinzenalmente às autoridades no âmbito de um processo pelo crime de posse de arma ilegal. Quer dizer, estava, porque a dita juíza isentou-o do incómodo para que pudesse, sem apertos de agenda, ir prestar os seus serviços aos congéneres ucranianos, sem ter de pedir licença para matar, quanto mais para usar armas.

Sinais da modernidade do nosso tempo, em que senhores juízes liberam criminosos para semanas de campo com autorização de matar fora de portas, confiantes na redenção com tamanho humanismo e sem a mais leve preocupação com a eventual aplicação da experiência portas a dentro.

Enquanto isso, reverendíssimas criaturas, como diria Gedeão, intimam os relapsos a prestar vassalagem a Biden, que vem à Europa participar numa cimeira da NATO, outra da UE e uma do G7, e a reconhecer que o Sol é quadrado e a Lua pentagonal e que os astros bailam e entoam à meia-noite louvores à harmonia universal.

É a civilização cristã e ocidental no seu explendor, a mirar-se ao espelho, embebida de uma certeza irracional – o mundo sou eu!



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