Queriam um pensamento único? Terão milhares a pensar por si próprios!

Paulo Raimundo (Membro do Secretariado e da Comissão Política)

A onda que a partir dos acontecimentos no Leste da Europa e da Guerra da Ucrânia, tenta impor o pensamento único, é avassaladora. Alguém decide, centenas replicam e milhares, na sua grande maioria alvos dessa ofensiva, tomam como suas as certezas de outros.

A narrativa dominante está muito longe das preocupações da maioria

Não sendo uma situação nova, assume hoje, no entanto, perigosos contornos que não podem ser menorizados. Desde logo, nesta fase, na criminalização política de quem tenha a ousadia de questionar seja o que for da narrativa dominante.

Cada um dos protagonistas desta imposição que está em curso foram e são a tropa de choque política das «nobres» razões das privatizações, das liberalizações dos preços, das flexibilizações da legislação laboral, da destruição da capacidade produtiva do País... e por aí fora.

Aí estão eles a falar dos bons e dos maus, justificando todos os acontecimentos a partir desta premissa: o custo de vida aumenta? A culpa é dos maus, procurando esconder que até numa situação hedionda como a guerra há quem se aproveite e ganhe com isso.

Os capitalistas dos EUA e da UE (os ditos empresários) impõem sanções aos capitalistas russos (na narrativa dominante, oligarcas) mas, como sempre, sobra para os trabalhadores e os povos de todo o mundo, enquanto por cá uns poucos vão-se amanhando.

Veja-se, apenas como exemplo em 2021, entre outros que se poderiam desenvolver, a relação directa entre os aumentos do custo de vida e os milhões que saem dos nossos bolsos para os deles: «EDP com lucro de 657 milhões»; «Lucro da Galp dispara para 457 milhões de euros»; «Lucros da Jerónimo Martins (Pingo Doce) aumentam 48,3% para 463 milhões de euros»; «Sonae (Continente) com lucro de 268 milhões de euros»; «Banca com lucros de 1510 milhões de euros».

Sobre isto, os do pensamento único nada dizem! Sabem a quem servem e os interesse que defendem.

Estamos perante um aproveitamento pelos grupos económicos que, depois da epidemia e da sua acção para atacar direitos e condições de vida, ao mesmo tempo que acumulavam milhares de milhões de euros de lucros e dividendos, encontram agora na guerra na Ucrânia e nas sanções novas possibilidades para exigir novos apoios públicos, procurando pressionar salários, direitos e o nível de vida dos trabalhadores e do povo. E o resto é conversa para nos entretermos.

Para os do pensamento único, a guerra é uma oportunidade e tudo farão para que se mantenha e se alastre.

Pelos direitos, pela paz

Lutar pelos salários, pelos direitos, pelas pensões, contra o aumento do custo de vida, é fundamental para a vida de cada um, como é também a luta pela paz. Abdicar desta luta é contribuir para a escalada da guerra, com todas as consequências que daí adviriam.

O pensamento único está destinado ao fracasso, ainda que seja previsivelmente longa e exigente a luta contra o mesmo. O pensamento não é, como nunca foi, único. E a narrativa dominante, detendo meios descomunais, está muito longe da realidade, das preocupações e da vida da larga maioria.

Hoje, dia 24 de Março, Dia Nacional do Estudante, é um bom dia para lembrar isso mesmo: há 60 anos, os estudantes levantaram-se contra o pensamento único do fascismo no nosso País e hoje, em inúmeros locais, mais uma vez saem à rua a partir das suas reivindicações próprias e dos seus direitos – sempre tão longe dos do pensamento único.

Esta é uma luta que segue em frente com os comunistas, tal como sempre e todos os dias, ao lado e com os trabalhadores, as populações e a juventude.

Queriam um pensamento único? Terão milhares, contra a vossa vontade, a pensar por si próprios.




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