Vítimas, censuras e mentiras

«Na guerra, a verdade é a primeira vítima». A frase atribuída a Ésquilo foi bengala usada e repisada no espaço mediático, mas sem que as suas consequências tenham sido levadas até ao fim pela generalidade dos que dela fizeram uso. A independência e a liberdade que constam dos estatutos editoriais desapareceram, assim como o rigor e a isenção que constam como deveres primeiros do Estatuto do Jornalista.

A «verdade inteira» tornou-se, como escreveu Paulo Baldaia no DN, algo que «ninguém quer». Para não ir mais longe, usemos os seus exemplos: ninguém quer ouvir as vozes que apontam para um boicote das autoridades ucranianas aos corredores humanitários, para garantir que nas cidades se mantêm populações como carne para canhão; como ninguém quer ouvir falar das forças nazis que foram integradas no exército ucraniano. São verdades inteiras que tornam indigestas as colheradas de propaganda militarista e belicista que vêm sendo servidas dia e noite nas televisões.

Na narrativa que, objectivamente, favorece e serve os senhores que tocam os tambores da guerra, cujos interesses se jogam no Leste da Europa (como noutras partes do mundo, cujas guerras estão fora de moda mas não são menos reais), não encaixou a posição do PCP. Não há lugar à compreensão e denúncia do caminho que nos trouxe a este ponto, dos seus principais protagonistas, dos interesses que estão em jogo, nem tão pouco do caminho da paz. Como algumas (poucas) vozes mais sensatas têm apontado, o caminho para a paz não passa pelo despejar de armas e pela escalada agressiva – este caminho apenas serve para sacrificar os povos, os crónicos «danos colaterais» da face belicista do imperialismo.

A peça da SIC sobre o comício de aniversário do PCP – que não podia estar mais longe de um exercício jornalístico – é exemplar deste triturar da verdade em nome do interesse maior, a fidelidade a uma das partes. A acusação grosseira e inaceitável de «inspiração no discurso de Vladimir Putin», a partir da demarcação de grupos fascistas e neonazis presentes na Ucrânia não passa de mais uma reles mentira. Não foi o presidente nem foram as autoridades russas que identificaram a presença destes grupos na Ucrânia e a sua influência junto do governo e do aparelho do Estado, incluindo a sua integração nas Forças Armadas. Foi o Público que, há menos de dois anos, titulou uma reportagem «Ucrânia, o campo de treino militar para a extrema-direita mundial».

Registem-se as vozes lúcidas que ainda vão tendo espaço no campo mediático e que lembram que não se pode sair da guerra sem entender o caminho que nos trouxe a ela, mas mesmo esses são hoje vítimas de uma suja campanha que atribui a todos os que fogem da verdade oficial o epíteto putinista, incluindo a oficiais generais portugueses que gozam de prestígio nas esferas da NATO.

A luta pela paz exige, hoje como sempre, lutar também contra a censura do pensamento único.



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