Chantagens, reféns, ventos e talentos
Na sessão pública realizada em Lisboa no passado sábado, o secretário-geral do PCP chamou a atenção para o «foguetório» com que banqueiros e patrões receberam a notícia da maioria absoluta do PS.
Vale a pena, para memória futura e para consultar em caso de dúvida, registar as encantadas declarações.
O presidente da CIP, António Saraiva, disse em declarações à Rádio Renascença, que o anterior governo do PS «estava refém dos dois partidos à esquerda» e que, «agora sem geringonça atrelada» (a expressão é dos jornalistas da rádio) pode fazer as «reformas» necessárias.
Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, em declarações à SIC, refere-se aos anteriores governos do PS nos seguintes termos: «a única diferença da maioria absoluta é que o PS deixará de estar refém da lógica da chantagem» - do PCP e do PEV, leia-se. Curiosa a escolha da palavra «refém», coincidente com a de António Saraiva, não é?
Oliveira e Costa, CEO do BPI, em declarações durante a conferência de imprensa em que apresentou os resultados do banco de 2021 (uns modestos 307 milhões de euros de lucro, o triplo dos de 2020) vê na maioria absoluta do PS «uma grande oportunidade que vai criar um momento histórico», em que «temos claramente um vento de popa, como dizem os marinheiros, muito significativo».
Castro Almeida, CEO do Santander Totta (que, coitadito, só apresentou lucros de 298,2 milhões de euros, num ano em que mandaram embora 1175 trabalhadores e encerraram 79 balcões) afirmou que «há uma muito maior liberdade de execução face a um governo minoritário. Não há muitos países na Europa com esta capacidade de autonomia e de decisão como nós temos». E chamou até a atenção para outra oportunidade: «há pessoas e até independentes que pela perspetiva de um governo a quatro anos e com capacidade para executar um plano, também aí a atração de talento é uma grande vantagem».
Quanto ao foguetório, ficamos conversados. E sem grandes ilusões sobre a quem serve a maioria absoluta.